“Ainda viva…”
O pensamento veio acompanhado de uma tosse seca, enquanto aos poucos recobrava a consciência.
Seus olhos se abriram lentamente, a mente emba?ada pelo cansa?o. Sentia o corpo pesado, como se cada músculo tivesse sido esticado ao limite, e a dor irradiava por suas costelas, pernas e bra?os, um lembrete do que havia passado. Ela piscou, tentando focar a vis?o e se situar do que estava acontecendo.
O ambiente ao redor era surpreendentemente distinto do que esperava encontrar. Ainda estava no subsolo, mas n?o se parecia com os túneis claustrofóbicos e úmidos que havia percorrido até agora. Aquela sala era imponente e elegante, como se fosse o cora??o de algo grandioso. As paredes eram feitas de uma mistura de pedra natural e exoesqueletos gigantes, entrela?ados e moldados como adornos intrincados, como se restos de antigos guerreiros insetos fossem transformados em pe?as de arte, esculpidas com precis?o, formando arcos e colunas que sustentavam a estrutura como se fossem raízes de uma árvore colossal.
Entre as colunas, teias densas e prateadas pendiam do teto, criando áreas de sombra que escondiam detalhes e sugeriam segredos ocultos. Essas teias eram grossas e resistentes, tecidas com um padr?o que lembrava um desenho ritualístico, místico. Essas divisórias balan?avam levemente com as correntes de ar que passavam, lan?ando sombras dan?antes sobre o ch?o, criando uma sensa??o de movimento constante.
A ilumina??o era suave e peculiar: casulos bioluminescentes estavam espalhados pelas paredes, emitindo uma luz verde-azulada que preenchia o ambiente com um brilho etéreo. Os casulos pulsavam como se estivessem vivos, acompanhando um ritmo próprio, semelhante a batidas cardíacas lentas.
O ar estava saturado com um cheiro doce e levemente azedo, como uma mistura de flores e mofo. Havia pequenas fontes de água cristalina que brotavam do ch?o, fluindo por sulcos esculpidos que desenhavam padr?es complexos no solo e que convergiam para o centro da sala, onde formavam um lago raso, cercado por plantas que pareciam vibrar ao toque da luz. A combina??o de elementos organicos e arquitet?nicos criava uma atmosfera que era ao mesmo tempo bela e amea?adora.
Ela estava prestes a se perder em sua análise quando ouviu um grito que cortou o silêncio, ecoando pelas paredes ornamentadas. Virou-se em dire??o a ele e viu uma mulher curvada no ch?o, as m?os apertando a cabe?a em agonia, emitindo um intenso lamento que permeava o ambiente. Suas pernas de aranha, longas e cobertas por uma carapa?a escura, se contraíam violentamente, com espasmos descoordenados, como se ela estivesse em meio a um ataque interno que a devastava por completo. Ana observou a cena, sentindo uma curiosidade latente se acender.
— Essa deve ser Niala… — sussurrou, franzindo o cenho. — O que diabos está acontecendo aqui?
Ela tentou se erguer, mas seu corpo se recusou a responder. Frustrada, cerrou os dentes e tentou de novo, mas sem sucesso. Tentou mover os bra?os, as pernas, qualquer coisa que a ajudasse a sair daquela posi??o, mas sentiu apenas o peso paralisante da exaust?o. Foi ent?o que seu olhar se voltou para o lado, avistando a espada negra a poucos centímetros de sua m?o. Fitou-a por um longo momento.
"Se deixaram minha arma aqui… ou s?o amistosos, ou pensam que n?o represento perigo…"
Seja como for, o fato de ter a arma por perto n?o era o bastante para tranquilizá-la.
A lamina havia novamente mudado de forma. Antes, já era maior do que Ana, mas agora se estendia por praticamente dois metros. Apesar disso, estava fina como uma espada curta, criando uma desproporcionalidade que a fazia parecer um fio de metal, quase como se estivesse prestes a se partir ao meio. Ana franziu o cenho, analisando a estranha transforma??o.
— Mas que maravilha... — murmurou a mulher, um sorriso sarcástico brincando em seus lábios. — Gabriel claramente n?o entendia nada de ergonomia quando fez essa merda…
Ela continuou a observar a lamina, avaliando os problemas óbvios que surgiam com a nova forma. Além de estar perigosamente fina, a distribui??o de peso estava completamente errada. A lamina se alongava tanto que o equilíbrio, que deveria estar próximo ao cabo, estava quase inexistente. A espada parecia ter um centro de gravidade impraticável, o que a tornaria difícil de manejar e quase impossível de controlar com precis?o.
Por fim, esticou a m?o, tentando alcan?ar a espada. Seus músculos tremiam, e a dor irradiava de cada movimento, mas ela for?ou até o limite. Quando seus dedos finalmente tocaram o cabo frio da arma, eles falharam, perdendo for?a e caindo no solo com um estalo. O olhar de Ana ficou mais severo, mas logo ela riu baixinho.
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— Imagina usar isso em um duelo, vai ser incrível — a ironia pesava em cada palavra. — Quando voltarmos pra casa, você vai virar um enfeite de parede, faca idiota. Um graveto parece uma op??o mais prática.
Ao mesmo tempo que se distraía com zombarias, viu de canto de olho um homem se aproximando de Niala, trazendo consigo uma bacia de água e um pano branco. Ele tinha uma express?o de extrema preocupa??o, e sua respira??o estava pesada, como se tivesse acabado de se recuperar de um esfor?o intenso.
Com cuidado, ajoelhou-se ao lado da rainha com corpo de aranha, a bacia repousando no ch?o ao seu lado, enquanto ele molhava o pano e come?ava a limpar o suor no rosto da mulher. A express?o dele era tensa, quase desesperada.
Ana percebeu que o homem era Luiz.
— Eu vou fazer de novo, Niala — disse ele, a voz carregada de tens?o. — Já me recuperei o suficiente.
A rainha, ainda uivando de dor, acenou levemente, lágrimas escorrendo por seu rosto severo, tra?ando caminhos sobre a pele pálida. Ela ergueu os olhos por um breve momento e encarou Ana, um olhar que misturava raiva e dor. Mesmo naquele estado vulnerável, havia algo indomável em sua a??o.
Luiz colocou as m?os nas têmporas de Niala, fechando os olhos e respirando fundo. Ana observou enquanto ele come?ava a se conectar mentalmente com ela, e o processo n?o era nada tranquilo. Seus músculos se contraíam, os dedos apertando o cranio dela com for?a. Cada segundo parecia arrancar um pedacinho da for?a dele. O rosto do homem estava tenso, e o suor escorria, caindo em gotas pesadas. A express?o dele logo se tornou de agonia, os dentes cerrados enquanto ele resistia à dor mental que o processo causava.
Após alguns segundos, com um estalo, Niala desabou, como se toda a tens?o tivesse se esvaído de uma só vez. Seu corpo relaxou completamente, e seu rosto, que antes carregava a angústia de um grito contido, agora parecia sereno, pacífico. Havia um contraste brutal entre a cena anterior e a tranquilidade que se instalou. O silêncio que se seguiu era quase assustador.
O mentalista permaneceu ajoelhado por um momento, respirando pesadamente. Ele havia claramente esgotado parte de suas energias, mas aos poucos, recobrou a compostura.
Logo levantou-se e caminhou em dire??o a Ana. Seu olhar encontrou o dela, e por um momento, havia uma mistura de cansa?o, compaix?o e, talvez, uma sombra de vergonha ou culpa. Ao notar o olhar afiado da rainha, rapidamente virou o rosto, desviando os olhos, com a m?o direita co?ando a nuca nervosamente, visivelmente desconfortável.
— Filho da puta, ent?o você está vivo…
A voz da rainha mascarada continha um toque de surpresa e raiva, e um sorriso ambíguo se formou em seus lábios. Sem entender completamente o que estava acontecendo, soltou um suspiro cansado e apoiou a cabe?a na parede atrás de si.
Luiz parou a alguns passos dela, mantendo o uma quietude que pareceu se arrastar. Ele respirou fundo antes de falar, a voz baixa e quase tímida.
— Como você está? Eu tratei suas feridas, líder…
Ana n?o respondeu, mas ficou surpresa. Mal sentia seu corpo, ent?o n?o se preocupou em se autoavaliar até o momento. Ao tocar levemente a lateral de seu abd?men, onde antes havia uma dor lancinante, sentiu a superfície mais lisa e fria, coberta por algo que trazia certo frescor à pele.
— O que você colocou neles? O cheiro é estranho.
Luiz hesitou, co?ando a nuca novamente, como se tentasse encontrar as palavras certas.
— é um... um composto da cidade. é utilizado como pomada e é gerado por alguns insetos da col?nia. A substancia tem propriedades ideais para uso médico — ele explicou, com um tom incerto.
Ana arqueou uma sobrancelha, ainda de olhos fechados, processando a informa??o.
— Me dê mais detalhes depois. Parece... interessante.
O silêncio que se seguiu foi desconfortável. Luiz permanecia de pé, nervoso, sem saber como prosseguir.
— E ent?o, idiota, n?o vai falar mais nada? — provocou Ana, seu tom carregado de sarcasmo.
Durante a intera??o, Ana a cada pouco tempo, esticava a m?o, tentando alcan?ar a espada que estava a poucos centímetros de distancia, porém ainda sem sucesso.
— Pe...perd?o, Ana... é que... é complicado — gaguejou Luiz.
— Oh, sim, eu vejo. Realmente complicado, afinal, olhe como fiquei após tentar buscar meus subordinados — o tom de Ana era ácido, mas ela sustentava o sorriso ir?nico nos lábios.
— Perd?o…
— Relaxa, só t? enchendo o saco... Eu já tinha que vir aqui de qualquer forma. N?o podíamos parecer t?o fracos aceitando amea?as de qualquer um — resmungou a rainha, voltando a abrir os olhos. — Agora, chega de pedir desculpas. Explique de uma vez.
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