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Capítulo 132 - Euforia do Metal Negro

  Ana corria a toda velocidade pelos túneis escuros, cada músculo trabalhando em sincronia, os pés mal tocando o ch?o antes de empurrá-la para frente. A espada negra balan?ava com o movimento, presa firmemente pelas suas m?os enquanto ocasionalmente criava faíscas ao raspar na pedra, mas sempre pronta para ser usada. Em um movimento fluido, a mercenária fincou no ch?o e, com um impulso calculado, usou o peso para girar bruscamente, fazendo uma curva fechada sem perder o ritmo.

  — Maldita ideia estúpida — resmungou, os dentes cerrados de leve.

  O barulho que vinha dos túneis era assustador, ressoando nas paredes como um trov?o constante, aumentando a sensa??o de perigo iminente. Eram patas, centenas, talvez milhares, que corriam em todas as dire??es.

  Sua vis?o aos poucos escurecia, e, sem perder tempo, alcan?ou um pequeno frasco preso ao cinto e o enfiou no ombro com for?a. O líquido reagiu quase imediatamente, e em poucos segundos sua vis?o, que havia sido ofuscada pela escurid?o dos túneis, se clareou novamente.

  — Só mais cinco — murmurou, contando as ampolas de vidro do mesmo tipo que ainda possuía — Preciso sair daqui em menos de três horas, se n?o vai ficar mil vezes mais difícil…

  Foi nesse exato instante que, de uma das encruzilhadas à frente, algo emergiu da escurid?o. Uma boca grotesca e desproporcional voava em dire??o ao seu rosto com uma voracidade monstruosa. Ana abaixou-se rapidamente por reflexo, o ataque passou sobre sua cabe?a por um triz. Enquanto a criatura voava por cima dela, p?de ver com detalhes o abd?men pulsante e suas patas curtas e deformadas.

  Sem hesitar, girou a espada em um arco brutal, cortando a criatura ao meio. O sangue viscoso manchou o ch?o quando o corpo despeda?ado caiu com um baque seco, mas Ana já estava correndo de novo.

  — é uma sorte que pare?am miniaturas das que lutei no abismo — comentou em dire??o ao nada, mantendo a passada.

  Suas m?os atingiam cada criatura que se aproximava com precis?o perfeita, derrotando-os com o mínimo de esfor?o ao eliminar as lacunas do exoesqueleto. No entanto, a dificuldade era muito maior que a do abismo. N?o eram como os insetos caóticos e descoordenados que conhecia, nestes túneis, atacavam em forma??o, como se fossem parte de um todo maior. Eles vinham em ondas, n?o em pequenos grupos isolados. Ana cortava o que conseguia, sua lamina ceifando vidas com precis?o, mas a cada golpe sabia que estava ficando com menos tempo.

  — Da próxima vez — comentou entre dentes, seu tom carregado de auto ironia — Vou gastar mais de cinco segundos pensando num plano.

  Tudo havia come?ado minutos antes com uma ideia impulsiva. Se os emissários já estivessem mortos, que sentido faria negociar? Por que n?o infiltrar-se e descobrir o que precisava primeiro? Assim, sem mais nem menos, Ana come?ou a cavar por baixo dos muros usando a ponta da espada e um pouco de mana, esperando que o terreno fosse simples o suficiente para realizar sua incurs?o.

  Foi uma surpresa quando, pouco depois, se viu despencando no vazio. Em vez de solo comum, encontrou uma rede subterranea de túneis vastos e interconectados, muito maiores do que havia imaginado, mas n?o t?o profundos quanto.

  A queda foi rápida e, quando se levantou, notou que n?o estava sozinha. Cinco corrompidos, com partes de seus corpos semelhantes aos finos membros de formigas, estavam ali, refor?ando as paredes do túnel. Conversavam animadamente, como se estivessem apenas realizando um trabalho rotineiro, sem imaginar o que acontecia ao redor. Todos ficaram paralisados no momento em que a viram, os olhos arregalados, congelados pela surpresa.

  Ana os observou de volta por um segundo, e depois os matou. Cada um deles. Rápido, preciso, sem hesita??o.

  — N?o me culpem. N?o posso ser descoberta t?o cedo — sussurrou enquanto os corpos caíam ao ch?o.

  Sem dar uma segunda olhada para eles, deu passos ágeis pelos longos corredores. Foi aí que o caos come?ou. Trabalhadores, ou talvez guerreiros, come?aram a surgir de todos os lados, armados e assustados, mas avan?ando implacavelmente contra ela.

  — Merda. N?o era para ser assim…

  A contragosto, Ana matou um após o outro, continuando a seguir a rota que escolheu por capricho. Os inimigos, até ent?o, tinham partes de seus corpos fundidas com equipamentos de engenharia mágica, no entanto, seus implantes, embora sofisticados o suficiente para fazer Ana ficar surpresa, n?o possuíam materiais de alta qualidade para respaldar a habilidade utilizada em sua confec??o. Mesmo os mais fortes aguentavam apenas dois ou três golpes da mulher antes de caírem perante a afiada lamina.

  — Como est?o me achando t?o rápido?

  Era estranho, surgiam oponentes continuamente, n?o dando tempo para pensar. A princípio, foi inc?modo, mas logo Ana se pegou se divertindo enquanto abandonava o cuidado e corria por aí, matando tudo e todos que cruzavam seu caminho. O cheiro acre de sangue enchia o ar, mas o peso da batalha trazia uma estranha satisfa??o.

  — Realmente n?o foi só impress?o... algo está diferente.

  A espada, após tanto tempo inutilizada, parecia deliciar-se com o sangue que a cobria. Conforme mais corpos eram deixados para trás, mais Ana reparava que ela estava mudando, apesar de n?o da mesma forma de antes. Milímetro a milímetro, a lamina de quase dois metros afinava ao invés de se alargar, ao mesmo tempo que permanecia crescendo de forma quase imperceptível. Ainda mais impactante era o fato de que estava cada vez mais leve, uma virada radical no comportamento anterior dessa massa sólida de metal que mal era manuseável.

  The author's narrative has been misappropriated; report any instances of this story on Amazon.

  — No fim, realmente deu para misturar a miss?o com o treinamento — a rainha riu baixinho, sentindo a excita??o crescer conforme ela avan?ava.

  Queria descobrir até onde aquela arma iria, mas, para sua tristeza, o avan?o caminhava a passos de tartaruga. Um ou outro guarda, mais forte que os demais, acabava por dar impulso suficiente para que uma altera??o minúscula ocorresse, mas precisava matar mais de dez oponentes comuns para que o mesmo efeito surtisse. Ainda pior era o fato de que, a cada morte, parecia que a lamina estava menos satisfeita, como se a mana absorvida fosse insuficiente para sustentá-la.

  De qualquer forma, foi em meio a seu doce passeio que finalmente chegou a uma bifurca??o e, ao virar o corredor, viu um homem-inseto de pé. Ele tinha tra?os de grilo, com pernas que se dobravam em uma posi??o antinatural, e a princípio parecia só o mesmo dos outros, mas uma fina coleira pendia em suas m?os. Preso a sua ponta, um besouro gigantesco se debatia, como uma fera faminta esperando para ser solta.

  O homem olhou diretamente nos olhos de Ana por, e ela soube, naquele instante, que as coisas estavam prestes a ficarem complicadas. Com um último sorriso do homem inseto, a coleira foi solta, batendo pesadamente no ch?o.

  Foi como uma explos?o. Antes que ela pudesse reagir, n?o só aquele besouro, mas sim centenas de outros insetos, n?o habitantes, mas sim criaturas em sua forma animalesca, todas do tamanho de c?es, surgiram das mais variadas dire??es, inundando o túnel como uma maré viva.

  Foi ent?o que Ana correu. E correu. E correu.

  — Porra, porra, porra! — gritou em frustra??o, sentindo o suor escorrer por seu rosto — Esses túneis n?o acabam!

  N?o importava quantos corredores ou salas ela atravessava. Galp?es, quartos, aposentos cuja fun??o ela nem se importava em entender... tudo parecia interminável. Era como se estivesse presa em um labirinto vivo, onde o fim nunca aparecia.

  — Chegar até as celas sem ser notada... Impossível desde o come?o... — ofegou, sentindo o suor escorrer por seu rosto. Seus olhos se estreitaram ao avistar uma porta de metal ao lado. Com um movimento brusco, empurrou-a com o ombro, encontrando uma sala repleta de prateleiras organizadas com equipamentos. N?o era o ideal, mas pelo menos poderia se esconder e recuperar o f?lego.

  Com um gesto rápido, levantou a m?o e, como um reflexo, manifestou vinhas que se enroscaram ao redor das prateleiras, puxando-as para bloquear a entrada. As plantas brotavam de seus bra?os sem que ela sequer precisasse prestar aten??o. Seu longo estudo sobre a vida vegetal utilizada para criar as armaduras organicas a fizeram visualizar seus detalhes quase que no automático.

  — Merda de mana... — resmungou. Mesmo com as flores ainda vivas em seu bra?o, a quantidade de mana absorvida era mínima, quase insignificante. A atmosfera dentro do túnel, onde o Sol n?o dava as caras, drenava suas reservas como uma esponja.

  Ela se apoiou nos joelhos, sentindo o cansa?o pesando em seu corpo. Permanecer na situa??o atual n?o era viável. Ela sabia que teria que tomar uma atitude.

  — Você precisa pensar, Ana, sua idiota — sussurrou para si mesma, massageando as têmporas com for?a por baixo da máscara — Organofosforados... Glifosato…

  As palavras saíam quase como um mantra, enquanto sua mente corria para organizar as fórmulas químicas que conhecia. As moléculas, as rea??es, tudo se alinhava como pe?as de um quebra-cabe?a complexo que precisava ser resolvido naquele exato minuto. Ela visualizava cada componente, cada átomo, como se as rea??es estivessem flutuando à sua frente.

  "Ou vai dar certo, ou vou morrer agonizando", pensou, enquanto rasgava a manga de seu casaco e, com pressa, a enrolava firmemente ao redor do rosto, cobrindo a boca e o nariz.

  Com um suspiro contido, Ana se sentou no ch?o frio do túnel, com as m?os tremendo levemente pelo esfor?o de manter a concentra??o. Ela esfregou as palmas contra os joelhos, como se tentasse transferir o calor do atrito para clarear sua mente. Respirou fundo e, com um foco que beirava o desespero, come?ou a concentrar a pouca mana que ainda tinha disponível para modificar as moléculas ao redor.

  O ar que a cercava come?ou a mudar lentamente. Uma tonalidade verde quase imperceptível come?ou a tomar forma. O vento, inicialmente leve e inofensivo, come?ou a se intensificar, carregando consigo as partículas do composto tóxico que ela tentava enviar pelos túneis.

  — Preciso que isso se espalhe... rápido — murmurou, for?ando sua mente a continuar o processo.

  Os sons das patas estavam crescendo em volume. Uma marcha incessante, um som que parecia vir de todos os lados. Logo, os primeiros insetos come?aram a surgir na extremidade do a sua frente, oposto a barricada, avan?ando com velocidade absurda. Ana os encarou por um momento, os olhos fixos nas grotescas criaturas. O ambiente ao seu redor ficava cada vez mais pesado, saturado com o composto tóxico, ent?o fechou os olhos, sentindo uma ardência crescente pela exposi??o. Seu est?mago revirava, e a náusea amea?ava derrubá-la ali mesmo.

  A sua frente podia sentir o químico atingindo as criaturas, e, para sua alegria, elas congelaram. Algumas come?aram a se contorcer, caindo no ch?o com espasmos descontrolados, seus corpos tremendo enquanto o veneno invadia seus sistemas. Mas, para a frustra??o de Ana, muitas delas se levantaram novamente.

  — Droga! — rosnou entre os dentes. Ela for?ou mais mana no ar, intensificando o fluxo que saia de seu corpo. O esfor?o era imenso, e sua mente dava sinais claros de esgotamento. As m?os tremiam incontrolavelmente, os músculos queimavam pelo uso excessivo de energia.

  E ainda n?o era o suficiente.

  As criaturas estavam desacelerando, isso era certo, mas o número era grande demais. Mesmo com todo o seu esfor?o, a horda continuava a avan?ar.

  Pelo menos, foi o que pareceu... até a mana reversa come?ar a tomar o controle.

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