home

search

Capítulo 142 - Desgostosa Lealdade

  Miguel se aproximou de Ana, os olhos fixos no horizonte com uma intensidade que refletia a urgência da situa??o.

  — Os batedores mandaram novos sinais — disse ele. — Est?o a apenas duas horas de distancia.

  Ana soltou um suspiro, absorvendo a informa??o enquanto mantinha o olhar firme na linha das árvores à frente.

  — Pelo menos tivemos sorte — comentou, sua voz controlada. — Realmente n?o é um exército t?o grande. Mas isso é apenas uma como??o inicial. — ela fez uma pausa, pensativa. — Mesmo com nossos números maiores, n?o temos for?as suficientes para enfrentá-los fora das muralhas. Essa merda foi repentina demais… — acrescentou ela, um brilho de irrita??o passando por seus olhos.

  Miguel assentiu, ajustando o binóculo e olhando para outra dire??o. Foi ent?o que notou a mancha escura que parecia deslizar pelo rio entre as copas das árvores, avan?ando devagar, mas constantemente.

  — Parece que a rainha de Myrmeceum conseguiu partir com seguran?a.

  — No fim aquele idiota realmente decidiu acompanhá-la?

  — Sim, o conselheiro Luiz partiu com ela — Miguel fez uma pausa, recolocando o binóculo em seu cinto e voltando-se para Ana. — Ele pediu que lhe disséssemos que fará de tudo para ajudar com a guerra.

  Ana n?o respondeu, mas seus olhos ponderavam sobre as palavras do mentalista enquanto um novo suspiro nascia em seus lábios. Em meio a correria, nem mesmo teve tempo para despedidas com Niala, mas isso n?o importava muito, pois já havia a libertado desde que pisou em terra.

  A cada segundo, o som dos tambores inimigos se aproximava, espalhando-se pela floresta como trov?es amea?adores. Mesmo a quil?metros de distancia, a intensidade da batida fazia o peito de Ana tremer, reverberando nas árvores e penetrando o solo. Cada batida carregava a tens?o do que estava por vir, anunciando que o confronto n?o poderia mais ser evitado. A floresta parecia compartilhar da mesma inquieta??o, como se todos os seres ao redor soubessem que algo sombrio e inexorável se aproximava.

  Por sorte, as dríades estavam em seu elemento, e seu habitat as fortalecia. Desde que sentiram a presen?a do inimigo se aproximando, come?aram a observar e catalogar cada movimento do exército invasor, seus números e forma??es.

  Miguel e Ana estavam posicionados no topo da torre mais alta de Insídia, o vento cortante da manh? fria chicoteando seus rostos enquanto examinavam a maquete tridimensional que representava o reino. Era uma vis?o sombria e fascinante. Cada movimento de pe?as sobre o tabuleiro era um reflexo direto dos sinais enviados pelo povo verde, e o secretário deslizava os dedos pelas miniaturas com uma precis?o calculada. As pe?as representavam tanto as for?as aliadas quanto as inimigas, um mapa dinamico de batalha que lhes oferecia uma compreens?o clara dos movimentos iminentes, permitindo que Ana desse ordens específicas para cada divis?o.

  Felizmente, a prepara??o para a defesa já estava em andamento há meses, e as for?as de Insídia já haviam sido alertadas e instruídas. A reuni?o do dia anterior fora realizada às pressas, mas cada detalhe foi cuidadosamente discutido, cada rota, cada estratégia, ajustados com a frieza e precis?o de quem sabia que n?o haveria segunda chance.

  Claro, tal reuni?o n?o se limitou a planejamento, pois a surpresa mais desconcertante surgira ao final, e Ana n?o conseguiu ignorar a inquieta??o que o assunto lhe causou.

  — Já encontraram a Colecionadora? — perguntou, mantendo o olhar fixo na maquete do reino, perdida nas linhas do frágil equilíbrio daquela situa??o.

  Miguel soltou um suspiro pesado, quase resignado, antes de responder.

  — Ainda n?o. Por mais que tenhamos buscado por todos os cantos logo depois do aviso do conselheiro Alex, ninguém conseguiu encontrar qualquer rastro dela — ele pausou, franzindo a testa em desconforto. — é como se tivesse simplesmente desaparecido no ar.

  — Mantenham as buscas — Ana cruzou os bra?os, o olhar se estreitando com irrita??o contida enquanto dava a ordem secamente. — Se alguém a encontrar, quero saber antes de qualquer um.

  — Ela é realmente t?o perigosa? A jovem Eva parecia muito agitada enquanto reportava a notícia.

  Unauthorized use of content: if you find this story on Amazon, report the violation.

  — N?o mais do que um exército — Ana soltou uma risada baixa, embora seu semblante se mantivesse sério. — Mas ela matou alguns membros do meu antigo grupo, e quase conseguiu me matar. Se ela tem interesse nos conselheiros, suponho que pelas armaduras, a situa??o pode decair rapidamente.

  — Entendo… Nesse caso, você também está em perigo, Ana. Quer que eu providencie uma escolta?

  — Acha que sou mais fraca do que ela?

  Miguel balan?ou a cabe?a rapidamente, claramente desconfortável.

  — N?o quis dizer isso…

  — Estou só te provocando — interrompeu a mercenária, antes que ele pudesse se justificar mais. — Talvez eu realmente seja. Mas n?o se preocupe, provavelmente eu vou estar morta em uma pilha de corpos lá embaixo antes que tenha a chance de encontrá-la.

  Miguel franziu o cenho, e sua express?o endureceu.

  — Ana, você n?o deveria ir para o campo de batalha. Sua presen?a aqui é essencial para a lideran?a da cidade. N?o podemos arriscar sua vida dessa maneira.

  A rainha ergueu um dedo, sinalizando para ele encerrar o assunto. Seu olhar era firme, deixando claro que n?o havia espa?o para obje??es.

  — N?o é uma escolha sua. Minha cidade, meu povo, minha luta. N?o sou do tipo que observa de cima e comanda sem agir. E, sinceramente, n?o suportaria ficar parada enquanto todos se divertem lutando.

  A conversa foi subitamente interrompida por uma movimenta??o incomum no port?o principal da muralha externa. Em destaque sobre os grandes muros, Garm se apresentava, imponente e solene, como uma estátua esculpida para a guerra. Seus olhos amarelos faiscavam intensamente, fixos na torre que lan?ava sombras sobre a cidade.

  — Chegou a hora —- murmurou Ana, sentindo o peso do momento.

  Sem mais rodeios, ativou um pequeno dispositivo em seu ouvido, transmitindo um sinal breve. No port?o, um dos guardas recebeu o comando e se apressou em retirar o comunicador. Com cautela, ele se aproximou do rosto do grande lobo, mantendo o dispositivo próximo o suficiente para que a voz de Ana pudesse ser ouvida claramente.

  — Tem certeza de que s?o descartáveis? — a voz dela soou firme, mas a presen?a de ruídos intermitentes adicionava uma crueza à pergunta.

  Por um breve instante, Garm manteve o encarou a linha de árvores ao longe, como se estivesse pesando a pergunta nas próprias entranhas. Lentamente, virou a cabe?a na dire??o do guarda e do dispositivo, com uma decis?o já tomada e uma chama feroz que revelava sua aceita??o do risco.

  — N?o enviarei todas as unidades logo de cara — respondeu o lobo, a voz profunda e áspera, reverberando em cada pedra das redondezas. — Os filhotes e algumas fêmeas já foram separados para garantir a continuidade da ra?a. Se sobrevivermos a isso, meus guerreiros se levantar?o novamente algum dia.

  Ana esbo?ou um sorriso frio, um sinal de aprova??o sombria. Ela voltou a infundir uma leve dose de mana no dispositivo, sua energia intensificando a clareza de sua voz enquanto respondia.

  — Ent?o, que comece o sacrifício.

  Ao ouvir as palavras, Garm ergueu a cabe?a para o céu e deixou escapar um uivo longo e poderoso, um comando que atravessava eras, pulsante como o batimento de um cora??o guerreiro. Era um chamado à luta, um brado que rasgava o ar e reverberava por toda a floresta, alcan?ando cada ser vivo ao redor com uma intensidade inescapável. O uivo de um líder, um sinal de sacrifício e honra, convocando seus seguidores a uma batalha sem garantias de retorno.

  A resposta foi instantanea. Centenas de uivos emergiram em uníssono, criando uma sinfonia brutal e primitiva, carregada de promessas de lealdade e violência iminente. O som espalhou-se pelas muralhas e inflamou os cora??es dos soldados humanos que aguardavam ansiosos na linha de defesa, contagiados pela determina??o feroz das criaturas ao seu lado.

  Os lobos cinzentos, com seus corpos retorcidos, mas fortes, saltaram das sombras e se alinharam nas fronteiras da cidade, suas silhuetas misturando-se com a folhagem. Olhos faiscando, músculos tensos e pelos eri?ados. O frio da manh? parecia congelar aquele momento, mas o calor das respira??es aqueciam o campo, antecipando o caos.

  Com um grunhido seco e implacável, Garm lan?ou a ordem final. A primeira onda de matan?a explodiu da linha de lobos, avan?ando com uma ferocidade avassaladora em dire??o ao inimigo.

  Quer apoiar o projeto e garantir uma cópia física exclusiva de A Eternidade de Ana? Acesse nosso Apoia.se! Com uma contribui??o a partir de R$ 5,00, você n?o só ajuda a tornar este sonho realidade, como também faz parte da jornada de um autor apaixonado e determinado. ??

  Venha fazer parte dessa história! ??

  Apoia-se:

  Discord oficial da obra:

  Galeria e outros links:

Recommended Popular Novels