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Capítulo 105 - Primeiras Reações

  O sal?o de reuni?es do castelo recém-construído era uma obra de arte em si, refletindo a grandiosidade e a ambi??o do novo reino. As paredes, feitas de uma bela pedra escura, eram adornadas com tape?arias detalhadas, contrastando com toques modernos de arquitetura. Lustres de ferro fundido pendiam do teto abobadado, lan?ando uma luz suave que destacava os detalhes intrincados das colunas esculpidas.

  No centro, uma mesa imensa de madeira de ipê dominava o espa?o, sua forma circular evocando a lendária Távola Redonda dos cavaleiros, simbolizando igualdade e unidade entre os conselheiros. As cadeiras ao redor da mesa permaneciam vazias, uma lembran?a silenciosa da ausência de muitos dos representantes. Apesar disso, ainda exalava uma presen?a imponente, prometendo ser o palco de muitas decis?es que moldariam o futuro do reino.

  Os detalhes no sal?o eram cuidadosamente planejados para inspirar respeito e admira??o. Criaturas míticas estavam entalhadas nas paredes, suas express?es severas observando os presentes como se julgassem cada palavra dita naquele espa?o. Cortinas pesadas de veludo vermelho, um improviso feito pelo povo que n?o ficou t?o ruim, emolduravam as janelas que iam do ch?o ao teto, e que se abriam para a cidade em constante constru??o lá fora, permitindo que a luz do sol entrasse e refletisse nas superfícies polidas do mármore falso do ch?o, dando um brilho quase sobrenatural ao ambiente.

  Tudo no local sugeria poder, estratégia, e um toque de mistério. O sal?o parecia vivo, como se esperasse ansiosamente pelas vozes que um dia o preencheriam com planos grandiosos e conversas decisivas.

  Ao entrar, Ana notou que Gabriel já a aguardava, enquanto Miguel permanecia encostado em um canto, quase invisível. A presen?a dos três era a única constante nas reuni?es do conselho, já que os outros conselheiros n?o achavam necessário comparecer com tanta frequência, e Nyx, como sempre, fugira logo após receber o chamado, alegando que discuss?es administrativas eram enfadonhas. Ana suspirou, contendo um sorriso ao imaginar a Sombra escapulindo pelas sombras dos corredores, mas logo focou sua aten??o nos emissários que aguardavam ansiosamente.

  Ela pegou o relatório que lhe haviam entregue, os dedos deslizando sobre o papel sutilmente desgastado enquanto lia com aten??o as informa??es sobre as últimas expedi??es. Os outros a observavam, aguardando sua avalia??o.

  — Bom trabalho — disse, sua voz suave enquanto erguia os olhos para os emissários que se postavam diante dela, acenando em aprova??o. — Das sete aldeias que vocês visitaram, cinco aceitaram realizar trocas. Isso é uma taxa de sucesso muito alta, considerando as circunstancias.

  Os emissários trocaram olhares rápidos entre si, satisfeitos com o reconhecimento, mas ainda mantinham uma postura respeitosa e firme. Ana, no entanto, percebeu algo no relatório que fez sua express?o endurecer levemente.

  — Vejo que uma das aldeias os atacou. Tivemos alguma baixa?

  O emissário responsável pela visita deu um passo à frente, claramente desconfortável ao relembrar o incidente. Sua máscara tinha grandes olhos esbugalhados, o que dava um ar c?mico ao homem magro, mas sua voz, em contraste, era firme e surpreendentemente calma. Duas longas marcas passavam pelo seu pesco?o de pedra, e Ana se viu pensando por um breve momento que pareciam obtidas na luta contra algum animal.

  — Eles foram hostis desde o momento em que souberam que estávamos ligados à reconstru??o da cidade amaldi?oada. Pareciam aterrorizados com a ideia de um novo reino surgindo das ruínas. Felizmente apenas nos afastaram com ataques de alerta, ent?o logo recuamos sem ferimentos.

  A caneta da mercenária riscava o papel, fazendo diversas anota??es conforme ouvia o relato, e logo deu uma pausa com a cabe?a ligeiramente inclinada, ponderando sobre a situa??o.

  — Bem, é surpreendente que n?o tenhamos encontrado mais resistências assim, n?o há muito o que fazer — comentou, mais para si mesma que para os outros. — Coloquem-nos em nossa lista de amea?as.

  Ela passou até a última página lentamente, absorvendo linha a linha.

  — N?o vi as aldeias maiores na lista, onde est?o? — questionou, sem tirar os olhos dos papéis.

  — O conselheiro Luiz acompanhou os outros emissários em dire??o a elas, mas ainda n?o retornaram — respondeu o emissário, hesitando por um momento. — N?o temos informa??es concretas para passar no momento...

  Stolen story; please report.

  — Entendo, vamos torcer para ele n?o estar morto — murmurou a mulher, pensativa. — Continuem monitorando, me avisem assim que tiverem notícias. Até lá, informem os outros que devem preparar os itens para troca. Sobre as ferramentas, irei até as oficinas mais tarde para ensinar um pouco de forja, caso n?o tenham o conhecimento necessário.

  — Eu posso cuidar dos detalhes, Ana — disse Gabriel, interrompendo-a suavemente. — Você n?o precisa se preocupar com isso.

  — Sei disso, mas prefiro ver as coisas com meus próprios olhos, n?o enche o saco. Por fim, devem sempre levar os bestiais com vocês quando fizerem as entregas. N?o quero arriscar a vida dos mascarados em miss?es desse tipo.

  Gabriel assentiu e também fez algumas anota??es em seu próprio caderno, já antecipando essa decis?o.

  Ana suspirou novamente, mas desta vez mais por cansa?o do que por divers?o, enquanto se levantava de sua cadeira. Seus olhos pousaram na última página do relatório, onde a men??o de uma aldeia em particular, a outra que havia se recusado a negociar, captou sua aten??o. Pegando o papel, ela come?ou a caminhar em dire??o à saída.

  — Onde você vai? — Gabriel perguntou, tentando esconder a tens?o em sua voz, mas seus olhos, que normalmente mantinham a calma, revelavam uma preocupa??o genuína.

  Ana ergueu o bra?o e chacoalhou a folha que havia recolhido de forma brusca, sem parar de caminhar.

  — Essa aldeia aqui… parece que solicitaram minha presen?a pessoalmente. Vou resolver isso. Pelo que li, é a aldeia com mais equipamentos, ent?o n?o vou recusar um pedido simples desse.

  — Você n?o pode ir sozinha. é arriscado demais.

  Ana deu um sorriso torto, embora a máscara escondesse suas express?es.

  — N?o vou sozinha. Miguel — chamou, olhando para o secretário. — você vai me acompanhar. Além do mais, já os conheci antes. S?o apenas um bando de voyeurs. N?o é nada que eu n?o possa lidar.

  — Só… tome cuidado.

  — Farei isso.

  Ela deu de ombros, como se a situa??o fosse banal, e continuou em dire??o à porta. No entanto, ao alcan?ar a entrada, uma ideia surgiu em sua mente, fazendo-a parar bruscamente. Com um movimento rápido, quase impulsivo, voltou alguns passos, sua m?o já mergulhando nas vestes para puxar uma coroa de prata desgastada. Com um gesto firme, lan?ou-a para o anjo de pedra, que a pegou no ar com uma express?o curiosa.

  — Preciso que você busque alguns humanos n?o mutados ou estátuas que atuem muito bem. Quero que visitem Barueri, cheguem até a taverna mercenária da cidade.

  — E ent?o? — perguntou Gabriel, intrigado, seus olhos vazios fixando-se em Ana.

  — Quando estiverem lá, mostrem essa coroa para uma mulher chamada Madame — instruiu Ana, um toque de divers?o em sua voz. — Abordem-na com gestos grandiosos e exagerados. Sério, fa?am isso, vai facilitar tudo. Convide-a para vir até a cidade, digam que a rainha a convoca, ela vai entender ao ver o broche.

  Gabriel observou a coroa por um momento, a mente trabalhando rápido para entender o que sua mestra pretendia com aquele pedido. Ele conhecia bem Ana e sabia que qualquer plano que ela bolasse tinha mais camadas do que se podia imaginar. Até pensou em dizer algo, em questionar aquela decis?o, mas logo desistiu, soltando um suspiro cansado, uma a??o sem sentido para uma estátua, mas que estava reproduzindo sem perceber nos últimos meses. Sabia que discutir era como tentar conter uma maré; inútil e desgastante.

  — E o que exatamente você pretende fazer? — perguntou por fim, sem conseguir se conter.

  Ana apenas deu um sorriso enigmático e ent?o virou-se para sair do sal?o. Ao ser ignorado, o anjo ficou parado, segurando a coroa por mais um momento. Após refletir, guardou-a cuidadosamente e voltou-se para o emissário, que ainda esperava silenciosamente.

  — O relatório que estava em suas m?os… qual a aldeia?

  — é Ybyty Poty, senhor, o povo verde. Eles parecem interessados em algo mais… simbólico antes de efetuar a troca — o emissário, notando o olhar atento de Gabriel, respondeu com cautela.

  Gabriel franziu a testa, sentindo que havia algo estranho na história revelada.

  — Certifiquem-se de que todos os detalhes sobre essa aldeia sejam entregues a mim o quanto antes — ordenou, seu tom de voz assumindo um tom de comando que poucos ousavam ignorar.

  Ele sabia que Ana era imprevisível, e que suas ideias muitas vezes seguiam caminhos tortuosos. No entanto, confiava nela — tanto quanto se podia confiar em alguém louco — incondicionalmente. Dando as últimas instru??es aos poucos presentes, deixou o sal?o, sabendo que o dia ainda seria longo e cheio de desafios inesperados.

  Enquanto o som de seus passos desaparecia pelos corredores, as luzes bruxuleantes às suas costas lan?avam sombras dan?antes nas paredes, como se o próprio castelo estivesse ciente da tens?o que permeava o ar.

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