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Capítulo 81 - Redenção em Sangue

  — Você precisa voltar para a pousada. Eles est?o atrás de mim.

  — Mas Ana… — Lúcia hesitou, seus olhos se enchendo de lágrimas, a voz tremendo de medo e preocupa??o.

  — é apenas um erro. Vou resolver isso e voltarei para encontrá-la — cortou Ana, a voz firme como a?o. — Por via das dúvidas, se eu n?o aparecer em três dias, procure minha irm?, Jasmim. Ela é uma ca?adora, vai poder te ajudar. E cuide do lobo como puder.

  — Eu... eu n?o quero te deixar…

  — é uma ordem — insistiu a mulher, entregando uma bolsa pesada de moedas para a menina. — N?o discuta. Só vá.

  O olhar de Lúcia era de pura angústia, mas o constante som do alarme e a press?o crescente da situa??o a fizeram relutantemente assentir. Ela se afastou, lágrimas escorrendo pelo rosto, o cora??o pesado. Ana observou até que a crian?a estivesse fora de vista, ent?o, com um último suspiro de resigna??o, voltou a correr pelas ruas estreitas do centro.

  — N?o posso ser pega. N?o por algo assim — murmurou para si mesma, seus olhos atentos vasculhando os arredores em busca de uma rota de fuga. As ruas da cidade, uma vez familiares, agora pareciam um labirinto opressivo de concreto e metal. Hologramas projetavam sua imagem em cada esquina, os detalhes de seu rosto nitidamente destacados, transformando cada beco e viela em uma armadilha potencial.

  — Eu só pedi um único momento de paz para os céus — ela resmungou, sentindo a frustra??o crescer dentro de si. Apesar disso, um sorriso torto cruzou seus lábios ao lembrar do passado, que, mesmo distante, parecia se encaixar perfeitamente na situa??o atual. — Uma ironia divina!

  Esgueirada na lateral de um prédio, Ana percebeu que os guardas estavam se mobilizando para uma varredura completa, suas comunica??es rápidas e coordenadas indicando a seriedade da situa??o. Sem ter para onde ir, se abaixou rapidamente atrás de um carro estacionado.

  — Eu só preciso de um momento... Só um momento para pensar... — murmurou, fechando e abrindo os olhos lentamente.

  Sabia que o tempo estava contra ela, os passos dos guardas ecoavam cada vez mais perto. Foi ent?o que, para sua surpresa, seus olhos captaram uma figura familiar no centro da pra?a próxima, cercada por nove outros ca?adores.

  “Obrigada pelo pouco oferecido, destino de merda.”

  Era uma mulher alta e esbelta, mais do que Ana lembrava, e seus longos cabelos castanhos agora chegavam até o fim das costas. Ela usava uma armadura de metal pesada, detalhada com belas runas mágicas e adornos intrincados que brilhavam sob a luz do sol. O símbolo de uma guilda desconhecida para a mercenária estava estampado no peito da pe?a: uma flor com finas pétalas circundada por um círculo de estrelas de um prata escuro. Um cart?o pendia de sua bainha, quase como um chaveiro, e nele estava estampado um "B+" em chatas letras douradas.

  A pra?a em quest?o estava silenciosa, mas os civis da regi?o tinham olhares mais calmos do que no resto da cidade, como se confiassem no grupo à sua frente.

  — Líder Jasmim, estamos prontos para a opera??o. — falou um dos ca?adores, com um curto cabelo castanho em corte militar, aproximando-se dela.

  — ótimo. Vamos nos preparar. Temos que resolver essa situa??o rapidamente — respondeu a mulher, dando um breve aceno com uma postura confiante e autoritária.

  Ana observou a cena, surpresa pela alta patente da jovem ca?adora. Ver sua irm? como uma figura aparentemente respeitada deu-lhe uma nova esperan?a de resolver a situa??o mais rapidamente.

  — Bom, vale a tentativa antes que o sangue seja necessário.

  Saltando sobre o automóvel, come?ou a caminhar em dire??o ao grupo. O som de seus passos sobre o pavimento ressoou pela pra?a, atraindo olhares imediatos, todos confusos pela apari??o repentina. Os guerreiros se entreolharam e mantiveram-se afastados, como se tivessem um estranho medo da suposta Sombra.

  Jasmim se virou rapidamente ao notar a situa??o, os olhos arregalados ao ver a irm?. Claro, ela já havia percebido quem era pelos hologramas, mas após pensar por tanto tempo que Ana estava morta, era estranho tê-la cara a cara. Por um momento, ambas ficaram imóveis, a surpresa estampada em seus rostos. Os olhos de Jasmim come?aram a brilhar com lágrimas n?o derramadas, mas sua express?o logo endureceu. Ela ergueu a m?o, ordenando aos guardas ao redor.

  — Cercar! — gritou a jovem, com a voz firme, mas trêmula.

  — Oi, Jasmim — Ana levantou as m?os, tentando parecer n?o amea?adora. — Precisamos conversar.

  — Conversar? — respondeu a garota com um riso amargo. — Acha que eu me rebaixaria a isso? Desde quando voltou pras nossas vidas eu sempre soube o que você era. Um monstro.

  — Eu posso explicar. — a mercenária tentou se aproximar, mas os guardas a barraram ao cruzar longas lan?as em sua frente. — Fale com nossa m?e, ela vai entender.

  Jasmim hesitou por um segundo, mas sua express?o logo se torceu em dor e raiva.

  — Ela está morta — as palavras saíram como uma lamina afiada. — E é sua culpa. Sombra imunda!

  Ana suspirou. A situa??o estava pior do que pensava, e com a notícia sobre a m?e, percebeu que pioraria ainda mais.

  — Eu n?o sabia. Mas de qualquer forma, n?o fui eu. Por favor, me escute.

  — Basta! — a ca?adora a interrompeu, sua voz ecoando pela pra?a. — Minha guilda está encarregada de te ca?ar. N?o há mais o que dizer.

  — N?o quero lutar contra você, mas se me atacarem, n?o os pouparei — Ana, apesar da tens?o, manteve a calma, pegando lentamente a longa espada negra que balan?ava em suas costas. Seus olhos esfriaram, e um fio de mana come?ou a iluminar sutilmente as marcas da lamina. — Recue. Essa é a oportunidade que te dou por ser minha irm?, n?o a desperdice.

  — Ataquem!

  Os nove membros, em resposta à ordem de Jasmim, avan?aram rapidamente contra a mercenária com precis?o militar. As armas brilharam à luz do sol enquanto se moviam em forma??o, prontos para capturá-la.

  — O primeiro ca?ador a se aproximar era um jovem na casa dos vinte anos. Carregava uma espada t?o longa quanto a de sua oponente. Seu olhar confiante indicava que n?o achava que iria perder, mas a mulher à sua frente n?o deu muita aten??o. Sua espada negra balan?ou de forma descuidada para baixo, e o espadachim sorriu, pensando em como a luta seria fácil. Um pensamento tolo, devo dizer…

  Ana se inclinou para trás enquanto pegava a espada ainda em queda com a outra m?o, usando o peso do próprio corpo para mudar bruscamente a dire??o do corte. A garota narrava a cena em mórbidas palavras, finalizando ao mesmo tempo em que a escura lamina se iluminou ainda mais, como se o sangue derramado ao dividir o corpo do jovem de baixo para cima lhe fizesse bem.

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  Dois ca?adores com lan?as avan?aram em seguida, atacando dos lados em um movimento sincronizado. Ana girou no ar, desviando dos golpes com uma agilidade felina. A espada negra cortou a lan?a da direita ao meio antes de perfurar o peito do ca?ador, fazendo o sangue jorrar enquanto caía de joelhos. Ela pousou levemente no ch?o, chutando o ca?ador da esquerda, o qual quase caiu para trás, antes de conseguir se apoiar em sua arma.

  — Um passo à frente, dois à direita. Mantém o ritmo, n?o perde a cabe?a — murmurou para si mesma, seus movimentos fluindo ao mesmo tempo em que a ponta de a?o passava entre seus cabelos pelas rápidas estocadas vindas do seu inimigo.

  Com um rápido giro, atingiu novamente um chute no homem, dessa vez desarmando-o. Um sorriso apareceu em seu rosto e leves espasmos passaram por seu corpo, com a mana diminuindo mais a cada instante. A espada negra dan?ou em um grande arco horizontal, dividindo seu oponente ao meio em um instante.

  — Oh, você é alguém que sabe brincar, jovem estúpida.

  Ana torceu o nariz ao ver uma flecha penetrar em seu bra?o esquerdo enquanto se distraía vendo como o sangue do ca?ador já morto criava uma po?a, Seu rosto se virou para a ca?adora antes que esta preparasse um novo disparo e a arqueira estremeceu com o olhar cheio de loucura da “Sombra”. Seus dedos trêmulos derrubaram a flecha, obrigando-a a pegar outra.

  Com um pux?o, Ana arrancou o objeto afiado de sua carne, fazendo a ferida ficar maior do que deveria. Ela olhou para o próprio sangue escorrendo por um instante, antes de dar de ombros e pegar a parte superior do corpo dividido do ch?o. Com um movimento repentino, lan?ou em dire??o a garota, fazendo-a perder a vis?o do terreno por um instante.

  — Restam oito! — exclamou a espadachim insana, enquanto a ponta de sua espada, até o momento oculta pelo corpo voador, atravessava a testa de seu alvo, uma surpresa que fez com que a arqueira morresse com olhos indignados com si mesma pela falta de rea??o.

  A arma escura continuava a sugar vorazmente a energia de suas veias, convertendo-a em mais velocidade e uma for?a assustadora. O anseio de matar de Ana subia a cada segundo, mas a mana que rapidamente absorvia dos ca?adores mortos trazia certa clareza para seu olhar.

  Os inimigos restantes decidiram atacar em grupo. Dois seguravam espadas e detalhados escudos medianos, um se preparou com um grande e amea?ador machado e duas manipuladoras, n?o t?o habilidosas, ficaram atrás para o auxílio, finalizando a forma??o em um semicírculo malfeito. Jasmim se juntou ao grupo nesse momento, tirando duas elegantes cimitarras de seu cinto.

  Com um movimento que poucos esperariam de alguém com uma armadura t?o grande, ela girou as armas, conectando os cabos para formar uma intrigante lamina dupla. Em um balan?o que demonstrava claramente sua maestria, Jasmim as imbuiu com sua mana, deixando um rastro prateado que seguia o giro, dando a impress?o de estar cortando o próprio espa?o.

  — Vamos, só se afaste, irm?, deixe-me terminar por aqui — o corpo de Ana balan?ava de um lado para o outro, demonstrando sua impaciência.

  — Cala a boca, monstro! Você n?o vai sair viva daqui depois de ter matado tanta gente.

  Ana suspirou e fincou a espada bastarda no ch?o. Em um gesto que fingia n?o saber o que fazer, massageou lentamente as têmporas.

  — Jasmim, Jasmim, Jasmim…

  Sem entender o que Ana estava fazendo, a líder do batalh?o fez um gesto para que avan?assem. Os sobreviventes se entreolharam por um momento, e com uma express?o determinada, voltaram ao ataque.

  Uma das manipuladoras levantou a m?o, conjurando uma rajada de energia que brilhou com um verde intenso. A manifesta??o transmutou-se em centenas de finas e poderosas vinhas, disparando diretamente em dire??o a Ana. Ao mesmo tempo, vendo as a??es sendo feitas à sua frente, a mercenária lan?ou a espada para o alto, executando um salto acrobático logo em seguida. Ao atingir a altura da arma, chutou-a em dire??o à manipuladora. A espada girou violentamente no ar, cortando as plantas que quase chegaram a seu corpo e cravando-se no peito da garota.

  — Mais um — sussurrou, aterrissando suavemente. Seus lábios tremiam como se segurasse a mais feliz das risadas.

  Enquanto isso, a outra manipuladora agiu rapidamente, conjurando uma névoa densa e estranha ao redor de Ana. O vapor se espalhou rapidamente, obscurecendo a vis?o da mercenária e isolando-a do resto da batalha. A névoa era espessa e pulsava com uma luz tênue, tornando difícil discernir qualquer movimento do lado de fora.

  Os outros ca?adores ainda assim hesitaram, mas Jasmim avan?ou com sua lamina dupla girando. No último instante, com o frio metal perigosamente perto de seu rosto, Ana desviou com um salto para trás, a lamina de Jasmim cortando o ar onde ela estivera momentos antes.

  — O que est?o fazendo?! Aproveitem que ela está desarmada! — gritou a ca?adora rank B com o cenho fortemente franzido.

  — Você vai matar essas crian?as, Jasmim — uma voz melodiosa veio da névoa que já come?ava a se dissipar, zombando da jovem já irritada.

  — Eu já mandei ficar quieta!

  Com a crescente raiva, ela atacou novamente e Ana se preparou para mais uma esquiva ao sentir as vibra??es do vento dos arredores. Jasmim sorriu, vendo que sua irm? repetiria o mesmo padr?o, e usando a lamina como um bast?o de apoio, saltou por cima da mulher, preparando um ataque vindo do alto que n?o daria espa?o para um desvio simples.

  — Idiota — murmurou Ana, esticando o bra?o voluntariamente em dire??o ao ataque e pegando com precis?o o centro da arma, onde Jasmim também estava segurando.

  Com um tranco, balan?ou o bra?o para o lado, lan?ando Jasmim em dire??o a vitrine de uma das lojas, estilha?ando o vidro e parando após acertar com uma tremenda for?a as prateleiras do local.

  Ana a viu se levantar com dificuldade, mas logo voltou seu olhar para as armas gêmeas que agora estavam em suas m?os. Girou-as em seus dedos por um momento, como se tivesse acabado de ganhar um brinquedo novo, mas logo fez uma cara de desgosto.

  — N?o é ruim… mas também n?o é bom…

  A mercenária levantou a m?o de forma descontraída em meio a seus murmúrios, bloqueando o pesado machado que vinha em dire??o a sua cabe?a, as laminas chiando ao se encontrarem. A for?a do impacto fez o ch?o tremer, mas Ana usou o momentum para girar e acertar outro dos ca?adores que se aproximava com um chute no peito, lan?ando-o contra um carro estacionado próximo.

  Movendo sua m?o para o lado, desviou o machado que ainda a pressionava e no mesmo movimento dilacerou o pesco?o do homem que a encarava com olhos furiosos.

  — Bom, tem sua utilidade — disse para si mesma, limpando o lado da lamina que estava sujo de sangue no manto do corpo sem vida. — Vocês três, saiam daqui agora, antes que eu mude de ideia.

  Sem o uso contínuo da espada negra, a sanidade perdida retornou lentamente. O ca?ador que havia levado o chute ainda estava curvado, sem respirar direito, sendo o primeiro a correr após seu inimigo mostrar uma estranha piedade. A manipuladora chorava pateticamente, mas manteve a guarda erguida com uma esfera cinza translúcida flutuando em sua frente, como se sua concentra??o n?o fosse o suficiente para idealizar algo concreto. Já o último espadachim pareceu pensar por alguns segundos, mas também ergueu novamente a arma, se pondo em frente a sua companheira de equipe.

  — Concentre-se, vou tentar criar uma abertura — gritou ele, como se além da ca?adora também quisesse convencer a si mesmo de que daria certo.

  A manipuladora, ainda em prantos, fechou os olhos firmemente por um instante, os abrindo com uma determina??o renovada em seguida. A massa disforme a sua frente come?ou a se solidificar. Era um formato simples, apenas uma grande bola de ferro, mas parecia ser o máximo que ela conseguiria na situa??o.

  — Cuide da minha família, por favor — com as últimas palavras soltas no ar, o espadachim se lan?ou em dire??o a Ana.

  A mercenária esperou pacientemente, bufando por n?o terem aceitado sua sugest?o. Ela girou a lamina dupla ao redor do seu corpo, e acompanhando o movimento da arma, se lan?ou em dire??o a seu oponente como em uma macabra dan?a. As armas se chocaram, mas os ossos do ca?ador aos poucos se trincaram pela press?o. Quando pensou que n?o poderia mais suportar, viu sua companheira disparando o maci?o objeto que havia finalmente terminado de manifestar.

  Ana refletiu o que fazer por um momento, mas por fim decidiu desviar ao invés de enfrentá-lo de frente. Seu corpo se abaixou levemente, preparando-se para lan?ar-se para trás, quando de repente um alto estalo foi ouvido de sua perna direita.

  — Merda de corpo fraco — resmungou ela, observando o mole membro rompido enquanto caia para o lado pela perda repentina de equilíbrio.

  A bola de ferro chegou nesse momento, inesperadamente acertando em cheio o est?mago da mercenária, lan?ando-a dezenas de metros para trás. O pequeno corpo da mulher atingiu a uma velocidade absurda um dos prédios, derrubando a resistente parede de pedra.

  — Ha… hahaha… — tudo o que podia fazer era rir de si mesma pelo azar enquanto sua vis?o aos poucos escurecia.

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