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Capítulo 64 - Laços Forjados

  — O que você estava pensando, Lúcia? Você sabe o quanto é perigoso ir t?o longe sozinha! — uma mulher de aparência forte com olhos preocupados, falava em um tom firme, mas amoroso.

  — Eu... eu só queria ajudar — murmurou a menina, com os olhos cheios de lágrimas enquanto a repreendiam severamente.

  — Ajudar? Você quase se matou! — exclamou seu pai, cruzando os bra?os. — Já perdemos tantas pessoas, n?o podemos perder você também.

  Um tenso silêncio preencheu o ar por um momento, e finalmente se voltaram para Ana, que observava a cena com uma express?o neutra.

  — Agradecemos por ter salvo nossa filha — os olhos da m?e de Lúcia brilhavam, cheios de gratid?o. — N?o sabemos como retribuir.

  — Foi sorte eu estar por perto, n?o se preocupe — respondeu Ana com um aceno de cabe?a. — Mas o que é exatamente essa aldeia?

  A mulher deu um profundo suspiro, antes de come?ar a explicar.

  — Quando os mundos se mesclaram, tivemos muito azar. Acordamos neste lugar escuro e desolado. Haviam aproximadamente trezentos de nós no início, mas nos primeiros dias, sem conseguir lutar contra os monstros, muitos morreram...

  Ana escutava atentamente, enquanto sua vis?o passava pelas pessoas de aspecto cansado.

  — Ent?o um dia, enquanto fugiamos, encontramos a forja da deusa, e o milagre do mar de metal. Estava repleta de armas de todos os tipos. Elas eram muito boas, apesar de n?o serem especiais, mas para os monstros da regi?o, eram mais do que suficientes. Em grupo, conseguimos revidar e, com isso, come?ar este pequeno povo.

  A mulher parou, vendo o olhar desconfortável de Ana com a men??o da divindade.

  — Oh, n?o entenda mal, n?o somos loucos. Pouco mais de cem de nós restaram vivos, a Deusa do Ferro é o que nos dá for?as para acreditar que milagres existem. Pode parecer bobo, mas imaginar que ela olha por nós é o que nos permite viver em paz — continuou a mulher, seu rosto assumindo uma express?o preocupada.

  — Ou ao menos era, já que o fluxo de monstros está estranhamente alto ultimamente. Eles n?o deveriam estar na parte "clara" do mundo escuro, mas sim nas profundezas — acrescentou o pai de Lúcia, franzindo a testa.

  “Espero n?o ter feito merda…”, pensou Ana, torcendo para n?o ter sido a culpada pela altera??o do ecossistema. Lembran?as da criatura que havia matado no estranho port?o, logo antes de sair da escurid?o absoluta, passavam por sua mente.

  — Recomendamos que você fique aqui por uns dias, pelo menos até ser mais seguro viajar — disse a m?e de Lúcia, olhando para a mercenária com seriedade.

  Ana refletiu sobre a oferta. Ela precisava de um lugar seguro para se recuperar e seguir com suas investiga??es, ent?o n?o era um mau negócio.

  — Vocês têm instala??es médicas que eu possa utilizar? — perguntou, esperan?osa.

  Os pais de Lúcia riram e balan?aram a cabe?a.

  — N?o temos nada t?o avan?ado. Tudo aqui é muito rudimentar no momento.

  — Entendo… bom, eu agrade?o pelo convite, vou aceitar ficar aqui algumas noites — Ana sentiu uma pontada de decep??o, mas com um suspiro resignado, ainda aceitou a sugest?o.

  Após uma refei??o simples, a garota foi levada para uma pequena cabana próxima à onde Lúcia morava com seus pais. O lobo encontrava-se deitado do lado de fora, e embora a infraestrutura fosse rudimentar, a generosidade e a hospitalidade do casal eram evidentes.

  O teto do lugar n?o se diferenciava muito do “céu” do lado de fora, e ao se deitar na cama, um estranho amontoado de feno macio coberto com len?óis improvisados, Ana refletiu sobre tudo o que havia visto. As armas que os alde?es usavam eram, sem dúvida, dela. Era estranho pensar que algo que ela havia feito tanto tempo atrás agora servia como a base da sobrevivência de um grupo de pessoas que nem sequer sabiam quem ela era.

  As horas se passaram em um piscar de olhos, e logo Ana se levantou, decidindo caminhar pela vila. Os olhares incessantes direcionados a ela n?o eram um inc?modo, a garota já estava habituada a plateias. Havia uma mistura de curiosidade e desconfian?a nos olhares dos habitantes, e mantinham uma distancia respeitosa, mas evidente.

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  O vilarejo era um lugar simples, mas havia um estranho calor humano que Ana n?o sentia há muito tempo. As casas eram construídas em torno de sua antiga forja, feitas de madeira robusta e pedras encontradas na regi?o, e cada constru??o revelava as cicatrizes de suas lutas diárias pela sobrevivência. Era uma modesta arquitetura que entrava em sintonia com a densa vegeta??o que cercava a, criando um cenário tanto de beleza quanto de desola??o.

  Crian?as corriam pela pra?a central, brincando com espadas de madeira e escudos improvisados. O cheiro de comida sendo preparada em fog?es a lenha vinha de várias dire??es, trazendo uma sensa??o de lar, mesmo em um ambiente t?o difícil. Surpreendentemente, o som de pequenos e encantadores pardais era ouvido por toda parte, misturando-se aos murmúrios dos habitantes que cuidavam de suas tarefas diárias.

  “Acho que é o lugar mais confortável desde que cheguei ao abismo”, pensou ela, logo antes de notar um grupo de homens que afiavam espadas desgastadas.

  Muitas das armas estavam em más condi??es. As laminas estavam cegas em um nível que impedia uma recupera??o adequada, com entalhes profundos e ferrugem come?ando a se formar. Intrigada, ela se aproximou, chamando a aten??o do grupo, que interrompeu o que estava fazendo para encará-la.

  — Isso precisa de uma manuten??o mais profunda do que simples afia??o — disse a mercenária, franzindo a testa ao examinar mais de perto uma espada que mal parecia capaz de cortar uma ma??.

  — E o que isso importa pra você, forasteira? — respondeu um dos homens, encolhendo os ombros com desdém. — Fazemos o melhor que podemos, mas n?o é o suficiente para algo t?o antigo.

  Os olhos ferozes mostravam que claramente ela n?o era bem vinda ali, mas decidiu oferecer sua ajuda como uma forma de retribuir pela hospitalidade que estava recebendo. Além disso, desde que a tens?o de ter que se esconder na floresta gradualmente sumiu ao longo da noite, Ana estava entediada.

  — Vamos, deixem de drama, coincidentemente me dou muito bem com o ferro, posso fazer isso por vocês.

  — E quem disse que queremos sua ajuda? — retrucou outro homem, cruzando os bra?os. — N?o precisamos de uma estranha mexendo nas nossas coisas.

  — Esperem! — exclamou Lúcia com as bochechas levemente coradas, uma rea??o ao esfor?o de vir correndo de longe ao notar que a situa??o estava esquentando. — Foi ela quem me salvou ontem à noite. Se n?o fosse por ela, eu estaria morta.

  Os homens se entreolharam, e vendo o olhar sincero da crian?a, a hostilidade suavizou um pouco. Finalmente, um dos mais velhos deu um passo à frente e assentiu lentamente.

  — Se Lúcia confia em você, ent?o acho que podemos dar uma chance. Mas estamos de olho.

  Ana sorriu agradecida, acenando com a cabe?a. Diferente do que imaginava, permitiram sem muita relutancia que usasse a forja, e logo o calor e o cheiro familiar do metal se espalharam pela cidade.

  Ela se sentia em casa, como se estivesse voltando a uma parte de si mesma que havia deixado para trás há muito tempo. Seus dedos acariciavam as ferramentas do balc?o, as quais estavam estranhamente limpas e organizadas, apesar do tempo dar um aspecto desgastado a cada centímetro.

  Ting… ting… ting

  O som do martelo batendo no metal ecoou pela monótona vila.

  Era um trabalho simples, ent?o seu alto foco n?o se manteve por tanto tempo, come?ando a ajustar as espadas quase que no automático. Lúcia observava de longe através de uma janela, curiosa.

  — O que acha, Lúcia? — perguntou Ana, levantando uma espada aquecida com a lamina recém reconstruída.

  — é lindo!

  Ana apenas sorriu, instigando a garota a se aproximar enquanto mergulhava o brilhante metal em água fria.

  — Quer me ajudar? Soube que vocês n?o tem um ferreiro, n?o seria incrível se você pudesse ajudar todo mundo se tornando uma?

  Os olhos da menina brilharam com entusiasmo, e ela correu para o lado de Ana, ansiosa.

  — Eu vou ser igual a deusa?!

  — Vai sim — uma gargalhada abafada saiu de seus lábios ao notar o genuíno interesse.

  Pegando outra espada, Ana come?ou a explica??o. Lúcia prestava aten??o com uma concentra??o intensa, absorvendo cada palavra e movimento.

  — A primeira coisa que você precisa aprender é como segurar o martelo corretamente — disse Ana, demonstrando a posi??o das m?os. — N?o é só bater com for?a. é sobre precis?o e controle.

  Lúcia pegou a ferramenta e tentou imitar os movimentos de Ana, seus pequenos bra?os tremendo com o esfor?o. Ana corrigiu sua postura, guiando suas m?os com paciência.

  — Assim? — perguntou a menina, mudando levemente a pegada.

  — Isso aí, assim está melhor. Agora, tente bater no metal de forma constante.

  N?o demorou muito para a crian?a come?ar a pegar o jeito, e Ana sentiu um orgulho inesperado ao ver a garota progredir.

  Enquanto trabalhavam juntas, os alde?es come?aram a se aproximar, observando com interesse renovado. A desconfian?a inicial parecia diminuir, substituída por uma sutil aprecia??o pelo que estava sendo feito.

  O dia passou rapidamente, e à medida que o sol come?ava a se p?r, a forja estava cheia de armas restauradas e brilhantes. Lúcia estava suada e cansada, mas um sorriso largo iluminava seu rosto.

  Ana sorriu e olhou para suas m?os sujas pelo constante manuseio do ferro.

  “Talvez esse lugar n?o seja t?o ruim”, pensou, sentindo que havia encontrado um propósito temporário, algo para se manter ocupada enquanto planejava seus próximos passos.

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