Cassandra permaneceu em silêncio, encarando a máscara que Ana estendia.
O olhar da mercenária era frio, carregado de um questionamento silencioso.
N?o precisava nem mesmo perguntar em voz alta — o olhar bastava:
"O que diabos você está fazendo?"
Ana n?o ofereceu respostas verbais de imediato.
Em vez disso, riu sozinha discretamente, e sem quebrar o contato visual, fez um gesto casual com a m?o para Miguel.
O secretário mascarado se moveu sem pestanejar, aproximando-se da mesa e colocando uma grande pasta de couro gasto bem na frente de Cassandra.
O som seco do impacto de seu impacto sobre a madeira quebrou o silêncio com uma estranheza desconfortável.
Cassandra arqueou uma sobrancelha, franzindo o cenho enquanto seus dedos tra?avam o couro áspero. Ela parecia mais irritada do que curiosa, como se o gesto fosse uma provoca??o.
— Você é uma pura, n?o é?
Cassandra piscou, processando a pergunta de Ana.
Antes que pudesse responder, a rainha continuou, implacável.
— Vá até aquela maldita cidade e mostre isso para eles.
Apontou com o queixo para a máscara, que ainda pendia entre seus dedos.
— Fale que me matou. Se declare a nova rainha de Insídia.
O silêncio que se seguiu foi mais intenso do que qualquer grito.
Cassandra arregalou os olhos, uma risada curta e seca escapando de seus lábios.
— Você só pode estar de brincadeira — disse ela, inclinando-se para frente, com um tom entre o deboche e a incredulidade. — Eu? Rainha? Desde quando você é do tipo que faz piadas ruins?
Ana simplesmente continuou a encará-la, o sorriso agora transformado em um olhar penetrante, carregado de uma certeza inabalável.
— Pega logo a porcaria da máscara.
Ignorando-a, Cassandra abriu a pasta com um movimento brusco, revelando uma série de documentos, mapas e anota??es detalhadas. No entanto, em meio aos muitos arquivos, uma série de letras tortas e desenhos rascunhados também eram vistos.
O olhar da mercenária se estreitou.
— Por que eu? — perguntou, finalmente levantando o olhar para Ana e pegando hesitantemente o símbolo do reino caído.
Ana deu de ombros, mas dessa vez sem seu habitual escárnio. Pegou cuidadosamente um dos muitos papéis. Nele, uma pequena sauna mal desenhada era vista.
— Porque nós fizemos esse plano juntas — respondeu. — Ou estava bêbada demais para se lembrar?
Cassandra soltou o ar com for?a, balan?ando a cabe?a, mas um sorriso teimoso come?ou a se formar nos cantos de sua boca. Ent?o olhou para Ana, com um brilho desafiador nos olhos.
— Quem diria… de arenista a rainha.
Ana se levantou da cadeira, o peso da exaust?o visível em seus ombros, mas seus olhos ainda brilhavam com a mesma intensidade feroz de sempre.
Se aproximou de Cassandra, parando ao seu lado e dando um leve tapa amigável em seu ombro.
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— N?o pegue leve com o pessoal lá embaixo — disse em um tom que misturava sarcasmo e seriedade. — Quando eu voltar, quero que a nova cidade-arena fa?a Tenebris parecer um beco ilegal de briga de galos.
A mulher soltou uma risada rouca, o tipo de riso que vem quando se aceita o inevitável. Segurou a máscara e, com um movimento deliberado, a colocou sobre o rosto.
O ajuste n?o era perfeito, e as partes quebradas incomodavam a pele, mas o efeito era impressionante.
Ana deu um passo para trás, observando-a com um olhar que misturava orgulho e um toque de melancolia.
Os segundos passavam devagar, em uma suavidade quase c?mica. Vendo que as duas pareciam perdidas em pensamentos, Madame pigarreou discretamente.
— Ent?o… já posso trazer a maquinaria do bar pro navio? — perguntou, com um tom leve, quase indiferente ao peso da reuni?o.
A pergunta pairou no ar, pegando todos de surpresa.
Ana virou-se lentamente, com um olhar de falsa incredulidade, como se a frase fosse t?o absurda que n?o merecesse resposta… mas, ao mesmo tempo, impossível de ignorar.
— Por que você já n?o fez isso?
— Bom, eu n?o sabia o qu?o sério você queria tratar todo esse papo de domina??o mundial — respondeu ela, o sorriso enigmático nos lábios. — Bebidas s?o realmente adequadas em uma embarca??o militar?
Ana piscou algumas vezes, e ent?o arqueou as sobrancelhas de forma dramática, como se tivesse ouvido a coisa mais absurda do mundo.
Deu um passo à frente, os olhos brilhando com uma intensidade que fazia difícil distinguir se ela estava prestes a rir ou explodir em fúria. Curvou-se ligeiramente e soltou um pequeno riso, as m?os apoiadas nos joelhos, como se estivesse prestes a perder o equilíbrio.
Mas ent?o, parou abruptamente, o corpo rígido, e levantou a cabe?a de forma teatral. Sua aura emanava uma intensidade febril, algo que misturava loucura e clareza absoluta.
— Militar? — repetiu de repente, antes de come?ar a olhar ao redor, encarando cada um dos presentes como se estivesse prestes a revelar uma grande piada da qual só ela sabia o final. — Acho que vocês est?o entendendo tudo errado!
O silêncio voltou por um instante, mas dessa vez era um silêncio expectante.
Todos ficaram imóveis, o olhar fixo nela, esperando o desfecho daquela declara??o.
Ana respirou fundo, o sorriso crescendo ainda mais.
— Nós n?o somos militares.
Os olhos da antiga rainha se arregalaram, o sorriso cresceu até beirar o psicótico. E ent?o, com uma energia explosiva que parecia sair de dentro do próprio peito em um enorme berro, ela sussurrou.
— Somos piratas!
Foi baixo e direto, mas todos ainda sentiram o peso daquilo.
A gargalhada que se seguiu foi selvagem e descontrolada. O olhar misterioso caminhou até uma das pequenas janelas do local, encarando o mundo lá fora como se pudesse moldá-lo com suas próprias m?os.
Girou em seu próprio eixo, os bra?os abertos, como se estivesse abra?ando o próprio conceito de caos.
— E agora, como bons piratas… vamos ca?ar baleias!
O eco das palavras se espalhou pela sala, misturado com o som da sua risada maníaca.
Houve um momento de quietude após o grito final.
Ent?o, como se algo tivesse sido quebrado — ou talvez libertado —, alguns sorrisos surgiram nos rostos ao redor.
Primeiro Niala, que soltou uma risada curta, balan?ando a cabe?a como quem pensa "Essa mulher é insana."
Cassandra bufou, mas um sorriso se formou enquanto tirava a máscara.
Lucas riu baixinho, apesar da dor, e até Miguel, o sempre impassível, pareceu relaxar um pouco os ombros, o brilho nos olhos mascarados denunciando um certo… orgulho?
Era isso.
Ana n?o estava apenas declarando um objetivo, estava definindo o próximo capítulo da história de cada um deles.
Ninguém ali conseguia dizer, com certeza, se ela estava brincando ou completamente séria.
Talvez fosse as duas coisas.
E talvez fosse exatamente isso que tornava tudo t?o mágico e perigoso.
Porque quando Ana dizia algo assim, n?o era uma metáfora.
Era uma promessa.
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