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Capítulo 94 - Duelo de Honra

  Ana olhou ao redor, tentando entender a situa??o bizarra em que se encontrava.

  — O que está acontecendo aqui? — perguntou, sua voz em uma mistura de confus?o e curiosidade.

  A figura alada ergueu o rosto mascarado, a luz dos vitrais refletindo em suas asas brancas. Havia uma calma inabalável em seus movimentos, como se estivesse em presen?a de algo sagrado.

  — Estamos esperando por você há tanto tempo — come?ou ela, a voz carregada de emo??o contida. — Fomos chamados de loucos, amaldi?oados, mas nunca perdemos as esperan?as. Nunca esquecemos da criadora que nos moldou com suas próprias m?os, de todo o cuidado gravado em nossos corpos.

  Ana franziu a testa, tentando processar as palavras, quando em um instante o ser alado retirou a máscara lentamente, revelando um rosto que a fez congelar. Era Gabriel, ou melhor, uma réplica perfeita dele. Mas algo estava errado. Havia uma ausência de vida, uma inumanidade nos olhos que a perturbava profundamente, mesmo tendo fei??es perfeitamente iguais ao anjo real. Seus músculos se moviam de forma mecanica, quase que algo temporizado, adentrando profundamente no vale da estranheza.

  — Esse... lugar... — murmurou a mercenária, sua voz falhando. — Esse lugar…

  Seu corpo instintivamente queria sair dali; tal lugar era uma das poucas coisas que realmente a amedrontavam. Lembrou de como fez cada estátua com amor, de como ficou feliz criando cada habitante durante o Grande Vazio. No come?o, parecia que estava trazendo à luz seu próprio mundo, mas recordava com clareza como o resultado final parecia um filme de horror antigo. E agora, como se dissesse que seus receios sempre foram verdadeiros, lá estavam elas, se erguendo diante dela, vivas e conscientes.

  “Bom, por enquanto vou apenas aproveitar a sorte que sorriu para mim”, pensou, rindo para si mesma, uma risada curta e amarga ao terminar de refletir sobre a situa??o.

  Estava prestes a responder, tentando encontrar as palavras certas, quando André, o líder dos bestiais, interrompeu com um grito gutural.

  — Basta! — rugiu ele, sua voz profunda ecoando pelo sal?o. — Isso é uma farsa! N?o existe rainha nenhuma!

  Ana virou-se para a voz, sua express?o endurecendo. Ela havia esquecido momentaneamente do perigo imediato em que se encontrava. André, com seus músculos tensos e olhos selvagens, avan?ava lentamente, seus seguidores rosnando em uníssono.

  Gabriel, ou o que quer que fosse aquela figura com o rosto dele, ainda segurando a máscara nas m?os, deu um passo à frente, protegendo Ana com suas asas estendidas, mas a mercenária encostou em seu ombro, indicando que se retirasse. O anjo de pedra recuou de forma hesitante, mas obediente.

  Ana se posicionou no topo da escada que levava ao trono, seu olhar fixo no bestial. Ela adotou uma postura quase teatral, deixando que a dramaticidade do momento tomasse conta da sala. Com um leve sorriso no olhar, falou com uma calma que escondia a intensidade de sua presen?a.

  — Como pode ver, André, a situa??o mudou. Se o seu objetivo é evitar mais mortes, devo dizer que lutar seria um esfor?o inútil.

  Ela come?ou a descer as escadas, cada passo ecoando no sal?o silencioso. Seus olhos n?o deixaram seu oponente aenquanto se aproximava, e quando chegou ao último degrau, olhou-o de cima a baixo, avaliando cada detalhe de sua postura.

  — Vocês nos atacaram sem provoca??o — continuou Ana, sua voz firme e clara. — Meu grupo estava apenas tentando sobreviver, mas vocês decidiram transformar isso em uma briga.

  André rangeu os dentes, o som se misturando com a quietude tensa que dominava o ambiente. Ele desviou o olhar para os mascarados ao redor, que já estavam com as m?os firmemente pousadas no punho de suas armas, prontos para agir ao menor sinal de confronto. O peso da situa??o estava evidente em seu rosto. Após um breve momento de hesita??o, ele suspirou profundamente, resignado.

  — Como rei, tenho a responsabilidade de proteger meu povo — disse ele finalmente, sua voz grave, mas resoluta. — N?o havia como saber que vocês n?o faziam parte do exército inimigo. Num mundo como o nosso, onde trai??es e armadilhas est?o em cada esquina, n?o podemos nos dar ao luxo de correr riscos. Mas agora, vendo a situa??o, reconhe?o que um confronto aberto seria desnecessário. às vezes é difícil controlar nossa... agressividade.

  Ele respirou fundo, olhando novamente para seus seguidores antes de voltar o olhar para Ana.

  — No entanto, n?o posso permitir que saiam impunes pelo sangue derramado. Exijo um duelo, para que possamos resolver isso de maneira justa.

  Ana ficou surpresa com a eloquência do bestial. A maneira como ele articulava suas palavras, com a gravidade e o peso de um verdadeiro líder, a fez perceber que ele realmente exalava a presen?a de um rei. Essa percep??o a fez refletir por um breve momento enquanto sua m?o alcan?ava a espada em suas costas. Quando tentou puxar a lamina, sentiu-a enroscar na bainha, e uma express?o de frustra??o cruzou seu rosto.

  "Ela cresceu de novo… t?o inc?modo", pensou, percebendo que a espada havia mudado mais uma vez, provavelmente absorvendo energia das mortes durante a fuga.

  Com um movimento calculado, ela girou a arma, deixando a ponta bater no ch?o diante dela, o peso de sua estrutura de metal negro vagando pela sala.

  — Se essa é a única forma de resolver isso, que seja — disse Ana, sua voz inabalável. — Mas exijo uma garantia: se você vencer, apenas vá embora, deixe meu grupo em paz.

  André grunhiu em resposta, seus olhos se estreitando com uma mistura de desconfian?a e respeito. Ele sentia que Ana n?o era uma oponente comum.

  — Eu exijo o mesmo — respondeu, a voz carregada de uma gravidade profunda. — Se eu perder, você e os seus deixam o meu povo partir sem interferências.

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  Com um estalo que parecia ressoar por todo o sal?o, André voltou à sua postura animalesca. Seus músculos incharam, a pele esticando sobre os ossos enquanto seus olhos assumiam um brilho vermelho intenso, quase sobrenatural. Ele parecia ter se transformado em uma besta, uma máquina de combate pura, pronta para a batalha.

  Ana o observou por um instante, seu olhar afiado analisando cada movimento do homem. Ela ponderou as próximas a??es, sua mente rápida considerando as possíveis estratégias. Ent?o, com uma decis?o firme, fincou a espada no ch?o ao seu lado, deixando a lamina cravada no mármore polido.

  Após balan?ar o corpo, adotou uma postura de luta desarmada, os punhos cerrados dentro das manoplas que agora reluziam com uma intensidade quase amea?adora.

  “For?a bruta n?o vai ser o suficiente”, refletiu, tentando decidir o que faria na luta inesperada.

  O mundo parecia mergulhado em tens?o, como se o próprio ar estivesse à espera do confronto iminente. As figuras mascaradas ao redor estavam desconfortáveis, os olhos fixos na cena que se desenrolava.

  Ana e André se encararam, e em um instante, ele se lan?ou para frente com uma velocidade surpreendente para alguém de sua estatura, os punhos cerrados como martelos prontos para esmagar.

  A mercenária desviou no último segundo, seu corpo girando graciosamente enquanto a m?o direita subia em um gancho ascendente, visando o queixo de André, fazendo sua cabe?a estalar para trás.

  André recuou com o impacto, mas rapidamente voltou a se lan?ar contra a mulher usando seus instintos animais. Ele desferiu um soco pesado, mas Ana abaixou-se, aplicando uma rasteira baixa que o desequilibrou. Em vez de cair, André usou o impulso para girar no ar e desferir um chute lateral com for?a bruta na dire??o do est?mago da guerreira. Ana foi pega de surpresa, bloqueando o chute com os antebra?os cruzados em x como uma defesa rápida, mas o impacto a fez recuar vários passos.

  — Porra, porra, porra! Que for?a desgra?ada — reclamou, balan?ando os bra?os. — Isso é totalmente injusto.

  — Ra?a inferior… Fraca…

  — Parece que alguém está meio lerdo de novo…

  Antes que ela pudesse recuperar totalmente o equilíbrio, André saltou para um dos pilares próximos, agarrando-se a ele com for?a. Com um impulso poderoso, ele se lan?ou em dire??o a Ana, estendendo os bra?os como garras, pronto para rasgar o que encontrasse. Ana rolou para o lado, mas ele, em um movimento intenso, pousou com os quatro membros no ch?o, como uma fera, disparando para atacar de novo.

  Ana se esquivou, inclinando-se em um movimento fluido para evitar o golpe, e desferiu uma cotovelada nas costas de André, abrindo um grande corte com a lamina de seu equipamento, o qual para sua surpresa resultou apenas em uma ferida n?o t?o profunda. Ele grunhiu de dor, mas, assim como antes, em vez de recuar, usou a for?a do impacto para se virar e desferir um gancho de esquerda que acertou o lado do corpo de Ana, fazendo-a ofegar.

  “Isso n?o é bom…”, sentindo a forte dor do ataque, Ana finalmente tomou uma decis?o.

  Suas manoplas e botas come?aram a emitir um brilho intenso, e pareciam estar quase fervendo quando um estranho vapor come?ou a ser emitido. Ana n?o pretendia lutar com manifesta??es de mana, n?o teve oportunidades suficientes para treinar isso devido a sua situa??o peculiar, ent?o estava apenas gastando energia deliberadamente na inten??o de aumentar sua for?a através do domínio da mana reversa.

  Sem saber disso, André come?ou a caminhar ao redor da mulher, hesitando em avan?ar precipitadamente. Foi ent?o que, dessa vez, Ana quem saltou para frente com um movimento inesperado. A garota usou a velocidade do impulso para girar sobre o próprio eixo, e abaixando-se levemente girou sua perna em um arco baixo que repentinamente mudou de dire??o, deslocando a mira do tornozelo de seu oponente para seu pesco?o.

  Devido a proximidade, o líder bestial desviou de forma improvisada, cambaleando para trás, porém Ana fez um nova investida, acertando o joelho em suas costelas, o impacto fazendo o ar sair de seus pulm?es.

  André quase caiu, sendo obrigado a recuar vários metros, recuperando o f?lego, e ent?o encarou a duelista a sua frente, se deparando com um inesperado sorriso. Só ent?o sentiu uma dor atrasada, e com certa confus?o passou as m?os sobre onde o joelho da mulher o havia acertado, notando um grande sulco em seu pulm?o. Seus olhos se arregalaram, algo assim n?o deveria ter acontecido com a resistência que seu corpo possuía, mas um novo toque de seus dedos mostraram que n?o era um engano.

  Antes que pudesse entender completamente a notável mudan?a de for?a, saltou para um pilar, desviando de um novo golpe que veio em dire??o a sua cabe?a. Com uma alta agilidade, o usou como uma plataforma para impulsionar-se no ar, girando em um ataque aéreo preciso.

  — Idiota — gritou Ana, sorrindo cada vez mais enquando dava dois passos rápidos em recuo, sentindo o metal familiar chegar em suas m?os.

  André, ainda no ar, descia em alta velocidade, uma verdadeira for?a da natureza, pronto para desferir seu último ataque. Ana manteve a calma, posicionando-se com precis?o. Ela arrastou o pesado objeto pelo ch?o e as faíscas saltaram enquanto a espada desenhava um rastro brilhante no mármore, antes de subir em um arco poderoso. Suas pernas mudaram de posi??o, visando manter seu equilíbrio, e logo a arma cortou o ar com um som agudo e acertou o bestial diretamente no abd?men.

  A lamina penetrou profundamente, cortando até a metade do tórax antes de ficar presa entre as costelas, destruindo vários órg?os internos em seu caminho. O impacto foi devastador, mas André, com uma for?a de vontade impressionante, permaneceu consciente. Seus olhos, antes ferozes, agora estavam carregados de dor e resigna??o. Ele fitou Ana com um olhar que misturava respeito e aceita??o.

  — Você venceu...

  Ana soltou uma risada alta, que reverberou pelo sal?o. Havia uma amargura na sua voz, mas também uma satisfa??o cruel.

  — Sim, eu venci.

  — Mantenha... a promessa...

  Ana observou o homem à sua frente, alguém que, apesar de toda a brutalidade, tinha uma honra própria. Ela acenou lentamente, mas ent?o virou-se para a figura alada, que já havia recolocado a máscara.

  — Vocês realmente me consideram uma rainha? — perguntou, com uma curiosidade genuína.

  — Sim, servir a você é o nosso propósito, Criadora.

  Ana ponderou por um momento, seus pensamentos se movendo rapidamente enquanto processava o que isso significava. Com um suspiro quase imperceptível, ela se virou para André, que mal respirava.

  — Num mundo como o nosso, onde trai??es e armadilhas est?o em cada esquina, n?o podemos nos dar ao luxo de correr riscos — disse Ana, repetindo a explica??o de seu agressor.

  André franziu o cenho, a confus?o evidente em seus olhos já enfraquecidos. Vendo isso, Ana se abaixou próximo a seu rosto e se inclinou um pouco, permitindo que ele ouvisse bem.

  — Matem todos que n?o se renderem.

  As palavras foram ditas suavemente, mas o impacto foi imediato e devastador. As portas do sal?o se fecharam com um estrondo, e o som das laminas saindo das bainhas ecoou pelo espa?o. O olhar de André se encheu de lágrimas, escorrendo por seu rosto enquanto a compreens?o e o desespero tomavam conta dele. Com seus últimos momentos, ele assistiu impotente enquanto seu mundo desmoronava.

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