home

search

Capítulo 92 - Cidade das Máscaras

  A paisagem come?ou a mudar gradualmente, com os primeiros sinais de estruturas derrubadas e escombros come?ando a aparecer. Pedras e vigas retorcidas emergiam do solo, claras marcas de uma civiliza??o, for?ando-os a desviar constantemente. O ar estava carregado de um cheiro de terra úmida e vegeta??o em decomposi??o, criando um ambiente opressivo e sombrio.

  Prédios antigos, agora em ruínas, estavam completamente tomados pela natureza, com raízes e plantas rasteiras crescendo através das paredes desmoronadas. Alguns poucos, ainda em pé, pareciam fantasmas do passado, suas fachadas desgastadas e janelas quebradas dando uma vis?o de uma época esquecida. As constru??es eram inabitáveis, dominadas pelo verde exuberante que insistia em reclamar cada centímetro de concreto e a?o.

  O grupo continuava a correr, os pés mal tocando o ch?o enquanto lutavam para sobreviver. A exaust?o era evidente em cada um deles, mas a necessidade de escapar dos bestiais impelia-os a continuar. Os humanos distorcidos corriam pelas paredes ao seu redor, os cercando cada vez mais com seus grandes números, preparando um ataque em massa para evitar mais mortes desnecessárias.

  — Vamos para o centro — ordenou Ana, com a respira??o pesada, ao notar uma constru??o maior se destacando no horizonte, uma silhueta imponente que se erguia acima dos escombros circundantes.

  Era enorme, esplendoroso, se tornando mais claro conforme se aproximavam. O shopping, claramente modificado para se parecer com um castelo, possuía quatro torres improvisadas e seus muros remendados davam um ar de grandiosidade decadente, como se alguém tivesse tentado reviver uma era de glória perdida.

  “Esse lugar… já estive aqui”, pensou Ana, franzindo o cenho ao notar uma estranha familiaridade.

  Seu cora??o acelerou, n?o pela corrida, mas por uma sensa??o de déjà vu inexplicável. Surpreendentemente, um arrepio percorreu sua espinha, deixando-a inquieta. Seus olhos vasculharam as ruínas, tentando identificar a origem dessa sensa??o t?o rara e desconcertante.

  “Parece que n?o sou só eu que notei”, em meio a seus pensamentos embaralhados, percebeu que os bestiais que os perseguiam come?aram a diminuir a velocidade, hesitando em se aventurar mais fundo na cidade abandonada.

  — Eles est?o parando — observou Eva, sua voz entrecortada pela falta de f?lego.

  — é possível que tenham se cansado antes de nós? — perguntou Luiz, com uma esperan?a palpável na voz.

  — Seja lá o que for, vamos aproveitar para ganhar alguns metros de vantagem — murmurou Ana, balan?ando a cabe?a, negando a possibilidade.

  O líder dos bestiais, que corria em um ritmo mais devagar, parou abruptamente ao ver as feras recuando. Ele grunhiu, emitindo uma ordem para que seus companheiros avan?assem, mas a resposta foi lenta e relutante.

  — Cidade… maldita… — resmungou para si mesmo, seus olhos selvagens captando uma figura no alto de um dos prédios desmoronados. Era um homem mediano usando uma máscara lisa amarela, sem enfeites. O item cobria todo seu rosto, escondendo suas fei??es, dando a impress?o de uma presen?a enigmática que parecia alheia a tudo.

  A figura permaneceu imóvel, observando o desenrolar dos acontecimentos. Assim como a mercenária que perseguia, o líder dos bestiais se chacoalhou levemente para tirar a tremedeira que o assolou de repente, como se um frio gélido tivesse percorrido seu corpo. Por um breve momento, parecia que iria recuar, mas, em seguida, decidiu continuar. Com um grunhido final, ele se lan?ou à frente, for?ando a vontade em seus subordinados.

  Finalmente o grupo de Ana chegou ao meio do labirinto de concreto, e ,ao se aproximarem do shopping, se depararam com grandes portas de metal. Sem hesitar, se juntaram para empurrá-las, até que se abriram com um rangido alto. O interior era um grande sal?o com grandes colunas de cor creme. Estava surpreendentemente vazio, exceto pelas numerosas obras de arte que decoravam as paredes e um trono imponente em um elegante altar. A luz que atravessava os vitrais em mosaico criava um ambiente mágico e quase irreal, jogando sombras coloridas pelo ch?o de mármore polido.

  — Essas pinturas… de quem é esse lugar? — sussurrou Ana para si mesma, encarando as próprias m?os que um dia estiveram sujas desta mesma tinta.

  The tale has been taken without authorization; if you see it on Amazon, report the incident.

  O resto do bando notou seus murmúrios, mas sem tempo para conversa, seguiram correndo até as escadarias que levavam do centro, seus passos ecoando no espa?o vasto e silencioso. Ana se colocou à frente, sua express?o determinada e olhos fixos na entrada.

  — N?o vou me desculpar por matar todos vocês — comentou a mulher, com certo sarcasmo na voz. Um pequeno fio de mana come?ou a circular seu corpo, uma pré-manifesta??o presa na indecis?o de lutar até o fim ou escapar sozinha daquele local.

  — Sem problemas, foi bom voltar a me sentir parte de um grupo, mesmo que por pouco tempo — falou Alex, com um sorriso triste se formando em seu rosto.

  — N?o posso dizer o mesmo, nunca me perdoarei por ser t?o estúpido. Eu n?o deveria estar aqui — resmungou Luiz, chutando um degrau, absolutamente sem propósito, com uma express?o triste em seu rosto.

  Todos se entreolharam, rindo diante da aceita??o da morte, um riso amargo e resignado, mas que aliviou a tens?o do ambiente.

  A Sombra, sem perder tempo, se sentou no trono de forma desleixada, cruzando as pernas. Com um sorriso travesso, come?ou a tocar uma melodia melancólica, mas emocionante. A música lembrava uma velha can??o de taverna, carregada de nostalgia e saudade, criando um contraste doloroso com a situa??o desesperadora.

  Foi ent?o que os bestiais finalmente os alcan?aram, e após uma nova hesita??o, entraram no sal?o. Com passos rápidos cercaram o grupo, mas n?o atacaram, como se estivessem medindo suas chances. Por um momento todos ficaram assim, se encarando, quando finalmente o primeiro inimigo se lan?ou em dire??o a eles. No entanto, antes que pudesse dar o bote decisivo, uma voz soou, fazendo-o se encolher. Era uma voz profunda e autoritária, vinda de algum lugar oculto do recinto.

  — Saia daí, Sombra. Apenas a rainha tem o direito de se sentar neste trono.

  A ordem reverberou pelo espa?o, impondo silêncio absoluto. A música parou abruptamente, e todos se voltaram na dire??o de onde acreditavam que o som vinha, tensos e confusos. A Sombra, que até ent?o mantinha uma express?o despreocupada, levantou-se do trono com um sorriso enigmático, claramente intrigada e, de certo modo, se divertindo pela inesperada interven??o.

  Os humanos corrompidos come?aram a se agitar, se agrupando atrás de seu líder recém-chegado. De repente, saindo de portas escondidas atrás das variadas pinturas, algumas dezenas de pessoas mascaradas entraram no local. Suas máscaras eram das mais variadas formas, algumas com express?es de sorrisos, ódio, lágrimas ou simples pinturas monocromáticas. Apesar da ausência de fei??es, notava-se que entre os estranhos havia homens, mulheres e crian?as, de diferentes tamanhos, roupas e cores. Todos se posicionaram entre as grandes pilastras, observando os intrusos com uma aura de expectativa e julgamento.

  A figura que havia falado anteriormente surgiu após isso, revelando-se com duas grandes asas brancas nas costas. Sua máscara era do mais puro branco, e sua estatura pequena trazia um ar de inocência que n?o combinava com sua poderosa voz. Com passos firmes, ela se aproximou do líder dos bestiais, que a encarou com um olhar odioso. A tens?o entre os dois era tangível, como se uma batalha silenciosa estivesse acontecendo.

  — Pensava que tínhamos um acordo, André. Ninguém tem permiss?o para pisar em nosso território — declarou a figura alada, arrogantemente.

  André rangeu os dentes, sua express?o se contorcendo em fúria contida. Pela primeira vez, levantou-se de sua posi??o simiesca, adotando uma postura ereta que destacava seus músculos extremamente desenvolvidos. O homem bestial tinha mais de dois metros de altura, fazendo a pessoa a sua frente parecer ainda mais minúscula, e seus cabelos pretos desgrenhados cobriam a maior parte de seu rosto. Ele tossiu for?osamente, como se limpasse a garganta, e ent?o uma voz rouca, mas profunda, tomou o lugar no sal?o.

  — N?o podia deixar… inferiores vivos. Mataram muitos de nós — come?ou o homem, gesticulando para o grupo de Ana. — E esse ser nojento ao lado deles… profanou companheiros caídos.

  A figura alada manteve a calma, seus olhos mascarados fixos no líder.

  — N?o permitirei uma gota de sangue em frente à rainha, n?o sem sua autoriza??o.

  Ouvindo isso, André soltou uma risada alta e gutural, assemelhando-se a madeira sendo triturada, um som cheio de desprezo.

  — Vocês realmente n?o conseguem abandonar essa lenda idiota? Cidade amaldi?oada… lar de tolos!

  — Você está errado — respondeu a pequena interlocutora, n?o se deixando abalar. Com uma voz alta e clara, anunciou. — Nossa rainha, nossa criadora e nossa mestra, finalmente está de volta.

  Nesse momento, todos os mascarados caíram pesadamente com os joelhos direitos no ch?o, suas cabe?as baixadas em dire??o ao Puni??o divina, como se prestassem uma homenagem. Ao mesmo tempo, a figura alada caminhou até a frente de Ana, prostrando-se diretamente aos pés dela. O local ficou em silêncio absoluto, a única coisa que se ouvia era o som da respira??o dos presentes e a brisa que entrava pelos largos port?es que foram deixados abertos.

  Discord oficial da obra:

  Galeria e outros links:

Recommended Popular Novels