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Capítulo 89 - Punição Divina

  Ana e Alex riam alto, as vozes ecoando pelas ruas quase desertas, com os bra?os sobre os ombros de Luiz. A noite fria e úmida se fazia presente, mas a leveza do momento aquecia o trio. As luzes dos postes lan?avam sombras alongadas, criando um cenário quase onírico ao redor deles.

  — Sério, é realmente útil ter um mentalista no grupo — disse Ana, tentando recuperar o f?lego. — Se soubesse como a vida fica mais fácil, n?o teria reclamado tanto.

  — Ele é realmente um gênio! — completou Alex, dando um leve empurr?o amigável em Luiz, enquanto um grande sorriso se formava em seu rosto.

  Luiz, cujo rosto estava visivelmente vermelho, tentou disfar?ar o embara?o adotando uma express?o arrogante, mas o canto de seus lábios tremendo para cima denunciava sua felicidade.

  — Vocês realmente precisam me valorizar — disse ele, tentando soar confiante e superior. — N?o é qualquer um que pode fazer o que eu fa?o.

  — N?o se ache tanto, ainda temos a Ana — respondeu Alex, com uma express?o provocativa.

  A men??o fez o manipulador hesitar por um momento. Sua express?o arrogante deu lugar a uma introspec??o visível. Ele murmurou, quase como se n?o quisesse admitir sua própria falha.

  — A mente dela é... estranha — seus olhos evitaram encontrar os de Ana, enquanto um arrepio passava por seu corpo ao se recordar do que teve que passar. “é como se tivesse um mundo inteiro dentro de si”, pensou ele, sem deixar que as palavras saíssem.

  Ana arqueou uma sobrancelha, intrigada com o comentário. Sua mente vagou brevemente, tentando entender o que Luiz quis dizer com "estranha", mas decidiu n?o insistir. Ela sabia que sua própria psique era um labirinto complicado até mesmo para si própria.

  Enquanto o animado trio seguia falando alto, Eva, que caminhava um pouco mais atrás, observava o caminho pelo qual vieram com uma express?o preocupada. Seus olhos se fixaram nos guardas do port?o, que agora sorriam de maneira estranha, como se estivessem em um sonho. Suas fei??es serenas e ausentes traziam certa dissonancia desconfortável, considerando a hora avan?ada e a natureza da cidade. O vento soprava levemente, balan?ando seus cabelos vermelhos quando ela voltou a olhar para frente, deixando de lado seus pensamentos com um longo suspiro.

  Eles esperavam que sair da cidade fosse complicado, mas a presen?a de Luiz tornou a situa??o uma m?o na roda. O homem ainda possuía roupas de guarda, podendo se aproximar das guaritas que encontravam pelo caminho com facilidade. Sua conversa a princípio era amigável, mas em um piscar de olhos fazia cada inimigo cair em um estranho transe, evitando que chamassem aten??o.

  Claro, isso só funcionava devido à guarda baixa por pensarem ser um companheiro, e, ainda assim, alguns mais resistentes despertavam segundos depois, momentos em que Luiz, sem hesitar, os esfaqueava na barriga com sua adaga. Aqueles que permaneciam inconscientes foram simplesmente deixados para trás. Assim, o grupo passou tranquilamente pelas muralhas, emergindo na escurid?o da floresta.

  Enquanto caminhavam sob o dossel escuro das árvores, discutiam o que fazer a seguir. O som dos passos sobre as folhas secas e o canto dos grilos criava uma atmosfera de tens?o e expectativa.

  — O que acham de ir para algum reino próximo? — perguntou Ana, sem muita urgência na voz, mas com um olhar atento aos arredores.

  — N?o quero me misturar com impuros — reclamou Luiz, o desdém em sua voz era evidente e sua carranca deixava claro seu desprezo.

  Ana se aproximou do homem e, com um movimento rápido, deu-lhe um forte tapa na nuca.

  — Para com isso. é impossível que todos os humanos tenham evoluído ao mesmo tempo. também deve haver certa parte da popula??o sem muta??es nas cidades, é perfeito para nos organizarmos.

  — é verdade. Eles s?o minoria, mas existem — Eva assentiu, confirmando a observa??o de Ana. Seu tom era suave, mas firme, sugerindo uma certeza quase paternalista.

  — Você tem algum lugar em mente? — perguntou a mercenária, voltando a caminhar pelo terreno acidentado.

  A arqueira ponderou por um momento, sua mente vasculhando as op??es. Ao olhar para Alex, ele deu de ombros, ent?o a garota prosseguiu.

  — Podemos ir para Carapicuíba. Conhe?o um pouco a cidade, tenho uma amiga por lá. As pessoas s?o reservadas, mas geralmente n?o s?o agressivas.

  — Teremos problemas com minha… situa??o?

  — N?o, a cidade n?o é t?o avan?ada tecnologicamente, n?o devem ter detectores. Eles adotaram um estilo de vida mais rústico, por isso sua muta??o réptil é t?o peculiar... é uma vila que vive da ca?a furtiva. — Eva sorriu levemente, tentando tranquilizar a companheira.

  — Bom, contanto que possamos encontrar um refúgio, está ótimo.

  Conforme caminhavam, a floresta ao redor deles parecia se fechar, mas ao mesmo tempo, oferecia uma sensa??o de liberdade. Seus passos duraram algumas horas, afastando-se cada vez mais dos altos muros. O silêncio era interrompido apenas pelos sons da natureza, com ocasionalmente pequenos animais correndo entre as árvores. Após percorrerem uma boa distancia, decidiram montar um acampamento em uma pequena clareira. A lua iluminava o local, proporcionando uma luz suave que se refletia nas folhas úmidas do ch?o, o que criava uma atmosfera quase pacífica ao se somar o agradável cheiro da terra.

  Alex, aparentemente exausto, deitou-se apoiado em uma grande pedra próxima e logo adormeceu, com um leve ronco escapando de seus lábios. Luiz, ainda se sentindo um pouco deslocado, sentou-se em um canto mais aftado, observando o grupo em silêncio, seus olhos inquietos vagando de um lado para o outro. Eva, para passar o tempo, atirava flechas sem muita for?a contra uma árvore próxima, sem a inten??o de acertar nada em particular, os movimentos mecanicos demonstrando sua necessidade de manter-se ocupada.

  Ana estava preparando o jantar. Ela cantarolava uma melodia antiga que ecoava pelo acampamento, uma bela adi??o na calmaria da noite. A carne assava lentamente sobre o fogo, seu aroma se espalhando junto com o ar fresco da mata. O crepitar das chamas misturava-se com a melodia, criando uma sensa??o de lar improvisado.

  De repente, um som peculiar chamou sua aten??o. A mercenária come?ou a ouvir um som de fundo, acompanhando sua própria voz. Era uma música tocada por um instrumento de corda, um som misterioso e envolvente, quase hipnótico, se misturando com seu canto de uma maneira que parecia intencional.

  Intrigada, Ana parou o que estava fazendo e se concentrou, tentando identificar sua origem. Seus olhos percorreram o acampamento, mas nada parecia fora do lugar. O silêncio dos outros membros do grupo, que agora também estavam atentos, tornou a situa??o ainda mais estranha. Eva parou de atirar flechas, seus olhos focados no mesmo ponto que Ana.

  Percebendo que o canto havia parado, uma voz feminina melodiosa soou de uma grande árvore, como se o próprio vento estivesse falando. Ela era clara e carregava um tom de curiosidade e leve provoca??o.

  — Quando soube que uma Sombra apareceu na cidade, pensei que era a nossa pequena coletora. Na verdade, por algum motivo, sinto que n?o estou errada, mas me parece que você n?o é ela, n?o é mesmo?

  Ana olhou para cima com o cenho franzido, sua express?o mostrando uma mistura de surpresa e desagrado. A luz das estrelas iluminava levemente uma figura sentada nos grossos galhos, suas características obscurecidas pela escurid?o, mas a voz carregava uma suavidade quase etérea.

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  "Mais uma pessoa estranha", pensou Ana, já cansada das constantes interrup??es e figuras misteriosas cruzando seu caminho. Puxando a espada, ela respirou fundo, preparando-se para o que quer que viesse a seguir.

  O visitante misterioso afinou o instrumento em suas m?os por um instante, antes de come?ar a tocar uma nova melodia. A postura relaxada e despreocupada da figura contrastava com a tens?o crescente no acampamento. Ana sentiu o som chegar em seus ouvidos, e uma sensa??o estranha se instalou em seu peito. Seu cora??o come?ou a bater de maneira irregular e intensa, quase como se estivesse em sincronia com o ritmo da música.

  A mercenária se preparou para avan?ar, mas antes que pudesse agir, um som agudo de algo mordendo chamou sua aten??o. Ela olhou para baixo e viu um pequeno animal, com a pele pálida e cheia de vermes, mordendo sua bota. Com um movimento rápido e instintivo, Ana o chutou, fazendo o corpo frágil voar e se chocar contra uma árvore, caindo inerte. Um cheiro putrefato come?ou a se espalhar, fazendo ela torcer o nariz em desgosto.

  — Que droga é essa? — murmurou, perplexa enquanto encostava no corpo com a ponta da espada.

  Interrompendo seus pensamentos, mais criaturas come?aram a emergir das sombras da floresta. Pequenas criaturas e monstros de baixo rank surgiam, todos em estado de decomposi??o avan?ada. Seus olhos estavam vazios e algumas partes de seus corpos faltavam, denunciando que já n?o existia mais vida ali. A cena era grotesca e perturbadora, uma vis?o que apenas piorava conforme até mesmo cadáveres humanos come?aram a aparecer. Dois deles andavam de forma desajeitada, enquanto outro se arrastava pelo ch?o, deixando um rastro escuro e pegajoso. O cheiro fétido era quase insuportável.

  Ana rapidamente recuou, posicionando-se ao lado dos outros membros do grupo, os quais já assumiram posi??es defensivas, formando uma meia lua ao redor do acampamento. O som de galhos quebrando e folhas farfalhando, em conjunto com a suave música criou uma sinistra cacofonia.

  Eva, reagindo rapidamente, ergueu seu arco e come?ou a disparar flechas em dire??o às criaturas, cada tiro precisando de precis?o e velocidade para evitar o avan?o das criaturas. Alex, com suas manoplas cintilando, atacava com golpes fortes, despeda?ando os corpos já decadentes. Luiz, por sua vez, se posicionou atrás dos outros, tentando criar pequenas barreiras de metal para segurar os inimigos. No entanto, a falta de for?a em suas manifesta??es escancarou sua falta de proficiência com este tipo de a??o, o deixando visivelmente desconfortável e inútil.

  — Alex, você n?o disse que mortos-vivos eram raros? — perguntou Ana, suas palavras carregadas de curiosidade, enquanto cortava a cabe?a de um cervo apodrecido com um único movimento.

  — S-s?o raros... Pelo menos deveriam ser! — gaguejou o homem, derrubando um monstro com um golpe certeiro. Sua m?o atravessou a carne já macia, deixando restos pendurados em seus bra?os que fizeram uma express?o de nojo extremo surgir em seu rosto.

  A música continuava, mais intensa e penetrante a cada segundo. A cada nota, uma nova onda de criaturas emergia, como se fossem invocadas pela própria música. O som dos gritos e dos golpes se misturava à melodia, aumentando a atmosfera de caos e confus?o.

  — Esses desgra?ados s?o muitos! — exclamou Luiz, tentando inutilmente conter o fluxo de criaturas com suas habilidades limitadas.

  — Por sorte, n?o s?o muito fortes — comentou Eva. Seu tom era controlado, mas havia uma urgência em seus movimentos. Decidindo que era hora de tomar uma medida mais drástica, ela girou ao redor de Luiz, posicionando-se para um ataque mais potente. — Luiz, me proteja por um minuto! — ordenou, sua voz firme entre uma respira??o pesada.

  O mentalista assentiu de forma hesitante, erguendo suas m?os e focando em fazer algo que a circundasse enquanto a garota puxava uma nova flecha de sua aljava. Seus dedos deslizaram por uma luz avermelhada que emanava do arco, e os mecanismos come?aram a riscar runas na seta. A ponta metálica come?ou a brilhar intensamente, acumulando energia enquanto Eva mantinha o fluxo de mana constante.

  Respirando fundo, ela mirou para o alto, onde a música ainda emanava. Com um movimento ágil, disparou a flecha. A figura na árvore percebeu o ataque e sorriu, preparando-se para desviar. No entanto, em vez de direcionar a flecha para o corpo da pessoa, a jovem ruiva tomou como alvo o galho em que ela estava sentada. O objeto atingiu a madeira com precis?o, e uma pequena explos?o ocorreu. O galho se desfez em uma chuva de lascas queimadas, fazendo seu oponente cair pesadamente no ch?o.

  A música cessou abruptamente, e com isso, todas as criaturas colapsaram, seus corpos caindo como marionetes com as cordas cortadas. Ana levantou um polegar positivo para Eva, deixando clara sua aprova??o. Com um balan?o despreocupado, jogou sua espada sobre o ombro e se aproximou do local em que a intrusa estava, mas logo baixou a arma ao notar que o sangue ao longo da lamina fedia.

  Eva, ainda recuperando o f?lego, também aproximou-se com cautela. Alex e Luiz observavam com aten??o, prontos para qualquer coisa que pudesse acontecer.

  A figura sentada no solo resmungava de dor, claramente incomodada pela queda. Sua aparência era impressionante e única. Seus olhos eram de uma cor de mel intenso e sua pele bela como ébano. Os longos cabelos negros quase alcan?avam seus joelhos, dando-lhe uma aparência misteriosa e selvagem. O aspecto mais marcante, no entanto, eram os chifres curvados e brancos como a neve que adornavam sua cabe?a. Eles se destacavam nitidamente contra sua pele escura, criando uma imagem poderosa e enigmática que deixava todos ao redor intrigados e encantados.

  Suas roupas relaxadas se moviam suavemente com a brisa. As vestes eram simples, mas de alguma forma acentuavam sua aura intrigante. Nas m?os, ela segurava um alaúde elegante, que parecia ter sido esculpido em um osso de tom envelhecido. O instrumento tinha uma aparência de fantasia enquanto suas cordas brilhavam sob a luz das estrelas.

  — Uma Sombra, quem diria… — murmurou Ana, cruzando os bra?os com desinteresse ao encarar a mulher. — O que quer comigo?

  — Apenas trouxe alguns velhos amigos para uma dan?a de boas-vindas. Nada além disso — respondeu a Sombra, levantando o rosto.

  — Velhos amigos? Esses zumbis de quinta categoria? — perguntou Luiz, chutando a cabe?a decepada de um javali anormalmente grande que estava em sua frente.

  A mulher sorriu de forma estranha e desconcertante, olhando para o homem com desdém, mas logo voltou seu olhar para Ana novamente.

  — Eu a sinto em você... é t?o nostálgico.

  — Creio que já percebeu que n?o sou quem você pensa — Ana estreitou os olhos, entendendo que o reconhecimento provinha dos restos de sua companheira temporária que corriam por suas veias. — Ela está morta.

  — Quem sabe? Talvez parte dela ainda viva em você.

  — Quem sabe… Bom, se acabou a brincadeira, sugiro que vá embora. N?o estamos com paciência para jogos.

  Todos ficaram desconcertados ao ver Ana permitir que a mulher simplesmente saísse, especialmente após o ataque recente. Eva, Alex e Luiz trocaram olhares confusos, esperando alguma explica??o.

  — N?o vale a pena brigar com alguém que nem levou a luta a sério, é um risco inútil — comentou a mulher, observando a Sombra enquanto ela cruzava as pernas. — Além disso, apesar de tudo, n?o senti hostilidade no ataque.

  Com um suspiro de resigna??o, Ana come?ou a recolher seus pertences. A clareira onde haviam montado o acampamento agora estava coberta de corpos despeda?ados e o cheiro era insuportável. Eles rapidamente juntaram tudo, evitando olhar para os restos espalhados pelo ch?o.

  — Isso foi muito estranho... — murmurou Eva, jogando um olhar furtivo para a mulher que estava sentada observando.

  — N?o se preocupe, se ela quisesse realmente nos matar, teria tentado algo mais direto — respondeu Alex, tentando acalmar a amiga. Mas a dúvida ainda estava presente em seu olhar.

  Assim que todos se organizaram, come?aram a seguir seu caminho, tentando deixar para trás a estranha noite. De repente, a Sombra se levantou e come?ou a segui-los de perto, cantarolando uma melodia suave. O som, embora sem malícia, trouxe uma onda de inquieta??o para o grupo, fazendo todos pararem e encararem a estranha companhia.

  — O que foi? S?o todos t?o interessantes, ent?o vou acompanhar vocês por um tempo — respondeu a barda sombria, como se sua presen?a fosse a coisa mais natural do mundo.

  Incertos sobre como agir, os olhos de todos se voltaram à sua líder, esperando uma decis?o. A mercenária apertou as têmporas com uma m?o, claramente frustrada. Com um suspiro exasperado, ela deu de ombros.

  — Foda-se, foda-se… — disse, voltando a andar sem olhar para trás enquanto balan?ava as m?os de forma a demonstrar que n?o estava interessada em resolver a situa??o.

  Satisfeita pela falta de uma recusa direta, a Sombra saltitou alegremente atrás de Ana. Os outros, desconfortáveis com a nova presen?a, come?aram a andar em silêncio, até que Alex repentinamente parou. Seus olhos se moveram de um lado para o outro enquanto contava os membros do grupo. Parecendo perceber algo, um sorriso surgiu em seu rosto.

  — Agora somos cinco! O Ironia Divina está de volta!

  — N?o, o Ironia Divina n?o existe mais — Ana murmurou de longe, balan?ando a cabe?a negativamente.

  Alex refletiu por um momento, assimilando o peso das palavras. Finalmente, assentiu.

  — Faz sentido... Mas e se mudássemos? Que tal Puni??o Divina?

  Ana parou por um segundo, um sorriso perturbador se formando em seus lábios.

  — Você sempre escolhe bons nomes... Puni??o Divina… é, tem seu charme — disse, voltando a andar com um olhar pensativo.

  Com a nova identidade, o bando seguiu em frente, prontos para avan?arem em um incerto destino.

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