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Capítulo 76 - Triunfal Ascensão

  Postei o anterior com o título errado, mas já ajustei. Se passaram direto, voltem lá hahaha.

  Os próximos dias foram uma corrida constante em meio ao vazio. Ana, Lúcia e o lobo seguiram em linha reta, sem saber quando ou se chegariam a algum lugar. A velocidade do lobo era muito maior do que a de um humano caminhando, permitindo evitar a maioria dos insetos com sua rápida acelera??o.

  Lúcia às vezes criava uma pequena luz que mostrava os arredores, mas com o tempo deixou de fazer isso, pois o cenário nunca mudava. Era sempre a mesma paisagem de rochas, sombras e ecos distantes.

  — Quanto tempo mais vamos ficar aqui? — perguntou a crian?a, enquanto mastigava um peda?o de carne dura e sem gosto. — A comida tá acabando.

  — Acho que muito, infelizmente…

  Como esperado, os mantimentos que levavam nas bolsas logo se esgotaram, for?ando-os a desacelerar poucos dias depois. O desvio dos monstros se transformou drasticamente em uma ca?a às cegas, uma luta para obter qualquer mínimo peda?o de uma carne branca e insípida.

  Os poucos dias logo viraram um mês, e às vezes Ana ouvia Lúcia tendo pesadelos enquanto dormia. A menina se revirava, murmurando palavras desconexas, muito mais magra do que quando chegou, fazendo a mercenária sentir-se impotente.

  “Talvez ela n?o dure até o fim do caminho”, pensou, enquanto observava o cada vez mais conturbado sono da menina.

  Felizmente para o grupo, além das esporádicas lutas por alimento, n?o enfrentaram perigos reais. Sempre que criaturas grandes apareciam caminhar por perto, o lobo simplesmente mudava um pouco a rota, logo voltando para a dire??o rotineira.

  Foi no meio do segundo mês que finalmente encontraram um rio. Sentir a água gelada tocando o corpo foi uma pequena alegria em meio ao sofrimento, e com uma decis?o mútua e silenciosa, come?aram a seguir em dire??o à sua nascente.

  A presen?a da correnteza trouxe um novo animo à viagem, fazendo até mesmo os ocasionais assobios de Ana se transformarem em uma melodia cantada em conjunto. A escurid?o parecia menos opressiva, e pararam de pensar t?o negativamente sobre as incertezas do futuro.

  Depois de muito tempo seguindo o fluxo de água, come?aram a encontrar musgo e minúsculas plantas. A vegeta??o era escassa, mas o cheiro do verde trazia uma esperan?a renovada. Os monstros também diminuíram, como se aquela área fosse um local totalmente deserto. E ent?o, como se vinda do nada, uma gigante constru??o come?ou a tomar forma.

  A estrutura era menos escura que o resto do ambiente, permitindo que voltassem a ver as silhuetas do mundo ao redor. Ainda era um espa?o preto e sem gra?a, mas para elas, era quase t?o bom como ver a luz do dia.

  Entraram aos poucos, cada passo ecoando pelas paredes vazias. Desde que chegou, Ana olhava em volta com um estranho sentimento de familiaridade, algo nesse lugar despertava memórias de um passado t?o distante que há muito lhe escapara.

  O local tinha um ar de abandono, mas havia algo majestoso e trágico em sua decadência, fazendo se perguntar por quanto tempo havia permanecido oculto na escurid?o. Grandes colunas de ferro e vigas metálicas enferrujadas se mesclavam com paredes de concreto cobertas por grafites desbotados. O ch?o estava repleto de detritos e plantas rasteiras que tentavam se agarrar à vida.

  Também se viam longos corredores com paredes de azulejos quebrados que abrigavam pe?as que pareciam ter sido parte de algum tipo de maquinário complexo, mas difícil deduzir seu objetivo com apenas os restos que permaneceram. Elas continuaram seguindo o som do rio correndo, que ecoava por trás das paredes, guiando-os mais fundo na estrutura.

  — Isso é t?o estranho! T?o enorme! — gritou Lúcia, olhando ao redor com olhos arregalados.

  — Precisamos ter cuidado aqui — disse Ana, assentindo, ainda tentando compreender a sensa??o de déjà vu que persistia. — Vamos explorar devagar e ver o que encontramos.

  Lúcia assentiu, ainda fascinada e assustada pela magnitude da constru??o. O lobo farejou o ar, inquieto, mas pronto para seguir adiante. Eles continuaram avan?ando, passando por um longo túnel escuro, quando de repente se depararam com uma área ampla que se abria em um grande espa?o circular.

  Ana parou por um momento para observar. Ao olhar para cima, ela podia ver um labirinto de várias escadas meio destruídas, algumas pendendo precariamente, outras levando a plataformas que pareciam suspensas no ar.

  O teto estava distante, coberto por sombras, como um bizarro po?o invertido que dava a impress?o de um espa?o infinito. De forma inesperada, um único fino fio de luz conseguia atravessá-lo, com a sutil ilumina??o criando um padr?o intrincado no ch?o ao produzir esfuma?adas sombras dos degraus. A sensa??o de esquecimento só de ficar ali parada era palpável, mas havia uma certa grandiosidade inexplicável permeando em cada canto.

  Seus olhos ficaram turvos conforme continuava a encarar o misterioso ambiente, e seus pensamentos pareceram parar, assim como o tempo, até que tudo explodiu no movimento de um mar de lembran?as.

  O som dos passos, conversas e o toque ocasional de um telefone preenchiam o ar, criando uma cacofonia familiar. Via o fluxo constante de pessoas indo e vindo, algumas correndo para o trabalho, outras voltando para casa ou indo para a faculdade. Os rostos variavam entre cansados e animados, muitos estavam absortos em seus celulares, alheios ao mundo ao seu redor.

  “Merda, estou atrasada pro trabalho!”, pensou a garota, sentindo o inconfundível cheiro de café da loja que sempre passava na esta??o.

  Esse aroma a envolvia, trazendo um breve momento de conforto para o futuro dia entediante e cansativo. Sim, já havia tomado uma xícara em casa, mas n?o conseguia resistir, quase conseguia sentir o calor do copo de café em suas m?os, uma pausa rápida antes de continuar sua rotina.

  — Oi Sandra, me vê um pra viagem, por favor!

  — Cadê o bom dia, Ana? — disse a mulher, já pegando o copo para atender o pedido. — Dia corrido?

  — Demais! N?o sei o que aconteceu, mas t? quase passando do horário. Ah, bom dia! — com um sorriso, a garota pegou o copo de café e pagou com um agradável sorriso.

  Parecia ter algo importante que precisava se lembrar, mas o murmúrio das conversas ao seu redor, misturando-se com o som distante dos trens chegando e partindo, a impedia de pensar direito. A ilumina??o fria da esta??o contrastava com o calor humano que preenchia o espa?o.

  The narrative has been taken without permission. Report any sightings.

  As cores, os sons e os cheiros eram vívidos, de uma simplicidade que por algum motivo estava a atraindo mais que o normal, e decidiu apreciar o momento com um gole do café quente.

  “Lúcia ia gostar de ver isso”, pensou, antes de franzir a testa. “Mas quem é Lúcia? Devo estar dormindo pouco ultimamente…”

  Balan?ando a cabe?a, come?ou a caminhar, até ser parada por uma voz alta em sua dire??o.

  — Sai da frente!

  — Quê? — perguntou a garota, intrigada com a ordem repentina sem nem mesmo estar no lado esquerdo da escada rolante.

  — Ana, sai da frente! — dessa vez, a voz familiar cortou a névoa das memórias, parecendo vir de dentro do sonho.

  Com um estalo, ela come?ou a piscar continuamente, e logo as imagens do passado desapareceram, como fragmentos intangíveis pelo ar. Virando-se rapidamente, viu Lúcia olhando com pavor, apontando algo atrás dela.

  Um rugido ensurdecedor encheu o espa?o, reverberando pelas paredes. Ana virou-se a tempo de ver uma gigantesca criatura avan?ando em sua dire??o. Um monstro colossal com pele grossa e escura, coberta de espinhos e placas ósseas, corria em sua dire??o. Parecia uma mistura entre um grande rinoceronte e uma toupeira, com um nariz estranho e olhos minúsculos para seu tamanho. Cada passo que dava fazia o ch?o tremer, e sua respira??o pesada saía em nuvens de poeira.

  A criatura avan?ou cada vez mais rápido, suas garras rasgando o ch?o enquanto se lan?ava em dire??o a mercenária. Ela saltou para o lado, sentindo o vento da investida passar por seu corpo. Lúcia gritou novamente, se aproximando, e o lobo rosnou, colocando-se entre o monstro e as duas.

  Com um movimento fluido, puxou a espada negra amarrada em sua cintura, sentindo o peso familiar na m?o. Sem perder tempo, ela correu em dire??o ao monstro, sua mente agora totalmente focada na batalha.

  O monstro toupeira girou de forma desengon?ada para enfrentar Ana, e seus pequenos bigodes feitos de carne pareceram farejar por um momento, antes de soltar novamente um rugido amea?ador. Ana desferiu um golpe rápido com um salto, mas a espada ricocheteou na pele dura, deixando-a apenas com um leve trincado. A criatura atacou com uma de suas garras, for?ando Ana a saltar para trás para evitar o golpe.

  Lúcia conjurou uma bola de fogo e a lan?ou contra o estranho rinoceronte, mas a a??o pareceu apenas irritar a criatura, que se virou para olhar a oponente intrometida. Aproveitando a breve distra??o, o lobo avan?ou, mordendo a perna do monstro, tentando imobilizá-lo. Um guincho de dor saiu da boca do oponente já em fúria e sacudiu a perna de forma brusca, jogando o lobo para longe.

  Ana viu a oportunidade enquanto o monstro estava arrumando seu equilíbrio e correu para o lado, desferindo um golpe com todas as suas for?as na junta da perna traseira direita. A espada negra penetrou na carne, e a criatura trope?ou para o lado, cambaleando.

  — Lúcia, agora! — gritou Ana.

  A jovem maga, com o rosto determinado, levantou as m?os e manifestou três longas agulhas feitas de gelo, grossas como apetrechos de crochê, que velozmente voaram diretamente na ferida aberta do monstro. Uma explos?o branca ocorreu no impacto, fazendo a criatura cair sobre a perna mutilada, mas a pausa durou apenas um breve momento antes dele voltar a correr em dire??o das garotas.

  — Precisamos sair daqui! — gritou Ana. Apesar dos ataques combinados, parecia que o estranho ser estava apenas superficialmente ferido. — Suba no lobo, rápido!

  Lúcia n?o hesitou e saltou nas costas do animal, seguida por Ana. O lobo, sentindo a urgência da situa??o, come?ou a saltar pelas escadas quebradas. Cada salto era uma tentativa desesperada de se afastar do monstro.

  Quando pensavam ter escapado, um forte som de pedras se partindo foi ouvido, e a criatura come?ou a correr com parte do corpo dentro das paredes, cavando de uma forma que destruía tudo em seu caminho. As escadas e plataformas desmoronaram uma atrás da outra, cedendo sob o peso da criatura, que continuava a persegui-los incansavelmente.

  — Ele n?o vai parar! — gritou Lúcia, segurando-se ainda mais firmemente no lobo.

  Ana olhou para trás, vendo a escura massa de músculos se aproximando rapidamente. Seu cora??o batia acelerado, a adrenalina correndo por suas veias. Sabia que precisavam de algo mais para escapar.

  — Continue correndo! — ordenou Ana ao lobo. — Lúcia, se prenda bem!

  Nesse instante, ela ergueu a espada negra, sentindo a energia sombria pulsar através de seus dedos. Fechou os olhos por um momento, concentrando-se na mana que seu corpo havia acumulado e dirigindo-a a sua arma, um teste diferente dos que havia feito até o momento. A espada inicialmente parecia n?o responder, mas logo come?ou a vibrar conforme a mana reversa escurecia a mana comum que estava sendo emitida.

  — Vamos acabar com isso — murmurou, abrindo os olhos.

  A lamina pareceu alcan?ar um preto ainda mais pesado do que a escurid?o vista no abismo, e seus muitos arranh?es come?aram a emitir uma fria, mas intensa, luz negra. Quando o monstro estava quase sobre eles, Ana se virou para trás, encarando os minúsculos olhos amarelados. Seus músculos se contrairam de forma anormal conforme sua for?a física aumentava e metade da mana que possuía já havia sido consumida.

  — Bang! — gritou a mulher. Um estranho sorriso já estava preenchendo seu rosto quando finalmente deu uma estocada com toda sua for?a.

  Ela havia esperado até o último instante, a mandíbula da criatura já estava a centímetros do lobo quando a afiada lamina negra chegou ao seu corpo. A energia liberada pela espada criou uma onda de choque que acelerou muito a velocidade do ataque, fazendo uma nuvem de sangue preencher o ar conforme boa parte de seu nariz de toupeira era destruído O monstro n?o teve tempo de reagir antes de ficar atordoado, caindo pesadamente para trás depois de se desprender da parede.

  — Corra, garoto! — gritou Ana. — Vamos!

  O lobo saltou apressadamente para uma plataforma mais alta, continuando a subir pelas escadas destruídas. O oponente, ainda torpe pelo golpe, tentava se recompor vários andares abaixo. Seu grande corpo se levantou com dificuldade, e logo tentou sentir os odores ao seu redor, claramente sem sucesso após se encolher de dor durante a tentativa. Mal conseguindo se locomover, desistiu da persegui??o, recuando para as sombras.

  — Me desculpa! — gritou Lúcia para o vazio abaixo, colocando as m?os ao redor da boca na esperan?a de que chegasse aos ouvidos do monstro.

  — Mas que merda é essa? Ele quase nos matou.

  — A gente invadiu a casa dele, você n?o pode culpar ele por se defender!

  Com um agarr?o, Ana pegou Lúcia pelas bochechas, trazendo seu rosto para perto do seu. Os olhos de um castanho amarelado escuro, quase dourados, chamaram a aten??o da menina, mas o olhar perturbado por trás deles logo a fez se retrair, assustada.

  — Você n?o pede desculpa para os fracos, você os mata. Entendeu?

  — Você tá estranha de novo…

  — Quieta, só me responda se você entendeu — sua voz ríspida atingiu os ouvidos de Lúcia como um martelo.

  A garota n?o acreditava que Ana realmente faria algo com ela, mas seu corpo n?o a obedecia, ela só precisava sair daquele aperto custe o que custar.

  — Sim… entendi…

  — ótimo, boa garota.

  Como se o episódio nunca tivesse acontecido, Ana afagou os cabelos pretos à sua frente, sorrindo gentilmente. Com sua outra m?o, guardou a espada na bainha e logo se balan?ou de um lado para o outro em cima do lobo, impaciente e levemente ofegante.

  A grande fera de pelo negro, continuou a correr, subindo cada vez mais alto, suas patas firmes encontrando tra??o nas superfícies irregulares. O ar ficava menos denso aos poucos e o fio de luz se tornava gradualmente mais brilhante.

  Ao passarem por uma velha bilheteria desmoronada, Ana percebeu cartazes desbotados nas paredes, quase irreconhecíveis, mas alguns detalhes ainda visíveis. Havia imagens de paisagens antes exuberantes, agora apenas sombras de um passado distante, mas um nome chamou sua aten??o.

  — Esta??o pinheiros… combina bem como a entrada de um abismo — riu a garota, balan?ando a cabe?a.

  Finalmente, uma claridade come?ou a surgir à distancia. Com cada passo, a luz aumentava, até que, de repente, emergiram em um vasto espa?o aberto. Os raios dourados do sol iluminavam seus rostos, e o calor era um contraste bem-vindo ao frio e à escurid?o que haviam enfrentado por tanto tempo.

  A paisagem à sua frente era deslumbrante; colinas verdes se estendiam até onde a vista alcan?ava, com árvores altas e robustas, suas folhas farfalhando ao vento. O céu era de um azul profundo, sem nuvens, uma vis?o quase surreal, e os pássaros cantavam alegremente, celebrando a chegada da primavera. Ana olhou para o horizonte, onde um rio serpenteava pelo vale, cintilando sob a luz do sol.

  — é t?o bonito — murmurou Lúcia, descendo do lobo, seus olhos espantados, sem rea??o imediata. Ela correu alguns passos à frente, estendendo os bra?os e girando, deixando a estranha luz no céu aquecer seu corpo. O sorriso em seu rosto era contagiante, um reflexo puro de felicidade e liberdade.

  Ana também desceu do lobo, deitando-se na grama macia. Sentia o cheiro da terra úmida e das flores silvestres, um aroma que trouxe uma estranha sensa??o de alívio. O lobo, agora sem o peso em suas costas, também come?ou a saltar no ambiente desconhecido, com a mesma anima??o e surpresa da crian?a.

  — Conseguimos, Lúcia. Estamos livres — suas palavras soaram baixas, como uma afirma??o apenas para si mesma. Ela fechou os olhos por um momento, sentindo o calor do sol em seu rosto. — Agora, há sangue a ser derramado.

  Sua mente estava levemente confusa, seus pensamentos iam e vinham, como se algo tirasse sua aten??o. Uma suave vontade de vingan?a que geralmente n?o era t?o presente por algum motivo martelava em seu peito. Seu sorriso ao pensar no belo carmesim que banharia sua espada era doce e gentil.

  Mesmo com a sensa??o constante de que havia algo errado dentro dela, Ana sabia que, pelo menos naquele momento, tudo o que importava era que tinham encontrado a luz. Mas essa paz interior foi interrompida por uma gargalhada inesperada que come?ou a soar sem raz?o aparente. Ana n?o conseguia parar, e logo lágrimas come?aram a escorrer dos cantos dos seus olhos.

  — Por que você está rindo? — perguntou Lúcia, se afastando um pouco, ao se lembrar da estranheza de sua mentora nos últimos dias.

  — Eu... eu n?o sei — respondeu a mercenária entre risos, tentando controlar a respira??o. — Minha cabe?a está uma merda!

  — Isso é t?o estranho, Ana!

  Apesar da testa franzida, a menina continuou observando Ana apertando o est?mago, rindo descontroladamente. Por algum motivo, sentiu vontade de rir junto, mesmo sempre tendo achado essas risadas soltas e perturbadoras.

  Sem entender completamente o motivo, logo se viu gargalhando também, de forma cada vez mais intensa, as duas compartilhando um momento de pura e inexplicável... loucura.

  E aqui, queridos leitores, chegamos ao fim do segundo volume da história. Se você acompanhou até aqui, espero que n?o se importe em deixar o seu feedback na página principal da obra, seja ele com belos elogios ou com duras críticas.

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